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COLUNISTA
Alexandru Solomon
02/10/2015 - 09h00
Uma nova versão
 
 
Conversa (des)afinada

Jogo do século – memórias do doutor Divago.

O apelo irresistível por novas e intensas sensações explica a proliferação de eventos ditos ‘do século’, versão rudimentar do já famoso ‘nunca antes na história dessepaiz’. Foi o caso do jogo de basquete da década, século, milênio, como queiram.

Na quadra, do ginásio recém inaugurado e, dizem, assaz superfaturado, desfilaram os maiores talentos, assistidos nas arquibancadas por uma plateia exigente, mas sabendo ser pródiga em aplausos, quando julgasse oportuno. E oportunidades não faltariam. Com o risco de cometer horríveis injustiças por omissão, assinalaremos algumas presenças notáveis nas tribunas, nos camarotes e nas arquibancadas. Lá estava Marina da Selva, soprano do teatro Scala de Milão. A seu lado, três irmãos Marx: Groucho com seu charuto, Harpo com sua harpa e Karl com sua urticária. Napoleão Bonaparte alegou uma indisposição estomacal, a mesma da batalha de Waterloo e se fez representar pelos primos François e Francisco Buarque – ambos de Hollanda, sendo que o último resolveu abandonar seu duro exílio na Île Saint Louis, depois de receber garantias de que o Fluminense jamais seria rebaixado. Foi notada também a presença discreta de renomado caçador de neologismos que preferiu manter um impossível anonimato, mesmo porque como antigo ocupante do Mistério das Ciências ocultas, nada precisaria ocultar. Identificado, Aldo Rebelde acenou para a plateia. Representantes de outros ministérios, maxistérios e mistérios também estavam lá, mas seria cansativo citá-los. Um público Maduro, em suma. Como detalhe pitoresco, na entrada o famoso bookmaker Guido Margarina apostava. Quais as apostas? Ora, resultado do jogo, PIB, inflação e apimentava as apostas, se é que se pode falar em apimentar, colocando em jogo vinhos de sua bem fornida adega.

Eis que surgiram os dois times.

De um lado, conduzidos por Magic Lula, ostentando uma invencibilidade de 12 anos, o Mens sana em salão. Desfilaram seu físico privilegiado, Wilt Chamberlain Dirceu, João Paulo Mallone, Larry Bird Delúbio, Nenê Genoino. LeBron Vaccari. Carmelo Anthony Berzoini, Paulo Bernardo Jordan e Rui Facão Pippen. Como atração adicional, o time ganharia reforços femininos no segundo tempo. No banco de reservas, Jack Niebelungo Wagner e Tony Merca Ewing.

Do lado oposto, entraram Zé Lite 1, Zé Lite 2, Zé Lite 3, e para não cansar o leitor, a lista termina com Zé Lite 12. Todos pertencentes ao grupo que não gosta de ver pobre tomando avião e levando-o para casa.

Uma ameaça de invasão do ginásio pelo Coro do Exército Vermelho foi contida. Os integrantes se limitaram a cantar o clássico Kalinka sob a regência do maestro Stedilev.

Antes do apito inicial, houve um fremissement na tribuna de honra, motivado pela chegada de Didu Morumbi, seus convidados Noninha e Zé das Docas, escoltados pelo fiel mordomo Archibaaaald. Zé das docas tinha vindo especialmente para ver Rei Velino doutô de bola.

- Archibald, quando o Saint Paul de mon petit coeur marcar seu primeiro gol, tem direito de aplaudir.

- Mas, milord, é um jogo de basquete.

- Oh, my God, dê-me o binóculo com lentes tricolores, para mim acompanhar o jogo.

- Para eu acompanhar, milord.

- E eu não sei... plágio sem muito pudor da fala de José Lewgoy.

Fechemos essa janela indiscreta e vamos ao jogo.

Antes, a vaia ao hino norte-americano e a execução do Ouviramdu por Fafá de Belém.

Bola ao ar. De imediato Magic Lula agarra o calção de um Zé Lite e ao ser admoestado, declara nada poder declarar, pedindo apenas perdão ao povo brasileiro. Segue o jogo, alternando–se cestas de dois, de três pontos e cestas básicas. LeBron Vaccari, Nenê Genoino e João Paulo Mallone defendem por zona, aliás está tudo uma zona.. Esgotado Magic Lula, pede substituição, e nem terminou o primeiro quarto. O técnico Tony Gramsci o saca do time. Nervoso, Magic faz embaixadas do lado de fora. Após a de Tuvalu, passa a fazer apenas consulados. Termina o primeiro quarto. Para os curiosos, procurem a contagem no Google. O time de Magic está carregado de faltas. De caráter, de decência, de decoro etc., mas o limite coletivo jamais será atingido devido a um embargo intransigente julgado no Supremo e ratificado do Extremo.

Recomeça o jogo e até a metade nada sucede. A defesa prevalece e a contagem não se altera. Não, não foi falha do painel de leds, mesmo porque nem instalado está, sua colocação faz parte do PAC5. Na súmula, Mens sana em salão ou Nightmare team amarga uma acachapante derrota, com menos de 10% de arremessos bem sucedidos.

No intervalo entre o primeiro e segundo tempo, entra em campo um meninão aparentando uns cinquenta aninhos, com um balde de tinta e alguns pinceis. E começa a desenhar um complicado labirinto: o ciclo da via. Melanie Klein explica aos presentes tratar-se de uma abordagem lúdica de uma personalidade cuja infância foi marcada por ausência de Édipo – partido em missão a Moscou.

Para divertir a plateia Eddy Matt entoa sua pièce de resistance Blowin in the Wind. Ao ser gongado, retira-se e retoca seu programa de renda mínima, a ser utilizado pela indústria de monoquínis.

Recomeça o jogo. Parecia que o Dream team estivesse indo Moro abaixo. Nada disso. O time de Magic apresenta a pivô Marta, enquanto Magic prepara uma pivoa – ela faz questão de ser assim chamada -. Sai Marta, transferida para outro time, entra a Pivoa e o panorama do jogo muda. Nas tribunas Cerveró pisca – que maldade – para Yousseff, agora vai. Todos ficam sem Graça com o comentário. Didu Morumbi autoriza Archibald a bater 5 vezes palmas em sinal de júbilo. Nos vestiários o técnico ministrou aula de Levytação e a esperança renasce. A pivoa começa o show de enterradas. Enterra a Economia, enterra a Industria, enterra o PIB e ao escorregar numa poça de água na quadra, consequência de uma goteira ou de alguma pequena marolinha, falha ao enterrar ‘essepaiz’. A companhia das letras altera um famoso título para À Gombra das Goteiras Imortais, futuro best seller. Magic já está em São Bernardo assando coelhinhos. E o jogo? Verdade. É que a pivoa fez um corta luz, faltou luz no ginásio e o jogo foi anulado.


Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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