Na segunda-feira o entrevistado do Roda Viva foi o presidente da Embraer, Maurício Botelho. A maioria dos entrevistadores era da área econômica. As perguntas não deram ensejo a grandes revelações, isto é, quem acompanha as notícias de aviação já tinha assistido ao filme. O jornalismo de aviação precisa de profissionais que tenham amplo conhecimento não só de negócios, mas também de ciência, de tecnologia e de aviação propriamente dita. São poucos. Entretanto, uma pergunta do editor da revista Tecnologia e Defesa, Cosme Degenard Drummond, deu oportunidade ao entrevistado de fazer uma revelação que passou batida pela mesa. Talvez só o ex-presidente da Embraer, Osires Silva tenha atentado para o significado da resposta, que não mereceu repercussão, pois não foi entendida em sua amplitude. A pergunta foi simples. A Embraer tem condições de projetar e construir um avião supersônico? A resposta foi também clara e direta. Não. A Embraer não domina a tecnologia da construção de aeronaves supersônicas, entretanto, a Embraer tem condições de absorver tal tecnologia. O que significa isso? Se o Brasil tivesse dinheiro para patrocinar o desenvolvimento de supersônicos, a Embraer chegaria lá. Como não há a mais remota hipótese de que isso venha a acontecer, então é preciso que os países detentores de tal tecnologia façam a transferência para a empresa. Isso é um problema político-diplomático, que cabe ao governo resolver. O que ficou claro na resposta é que se a tecnologia chegar, será incorporada e gerará frutos, como aconteceu quando da construção do AMX. É esse o pulo do gato da Embraer, ela está na frente da onda da tecnologia mundial. Posição privilegiada, fruto de uma política educacional séria e conseqüente, desenvolvida pelo Ministério da Aeronáutica, iniciada com o CTA em 1946 e seguida pelo ITA em 1950. Se tivéssemos dado prioridade à educação, como fizeram os militares da aeronáutica, hoje estaríamos exportando não só aviões, mas também câmeras digitais, carros, computadores, enfim, tudo o que compramos dos países educados. Será que um dia a ficha vai cair?
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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