Devo estar ficando velho. Devo não, estou. Apesar disso deixo claro aos que me lêem que é contra a vontade. Infelizmente para os seres multicelulares a fluidez do tempo leva ao desconhecido. Como será a não existência? Turbulenta? Felizes os que crêem em alguma coisa, para eles a vida continua. Será que acreditam mesmo? O fluxo temporal é inexorável e como todo fluxo contínuo deve transportar alguma energia. Suponho que seja a energia que exaure o indivíduo enquanto aprimora a espécie. Parece paradoxal, é real. Será que em algum momento conseguiremos usar a energia do passar do tempo? Ou seria do espaço-tempo? Sempre acreditei na jovialidade da alma, afinal de contas é preciso acreditar em alguma coisa. "Young at heart". A frase me lembra um dos mais belos planos-seqüência da história do cinema. O autor foi o mestre Martin Ritt, no filme "The Front", "testa de ferro por acaso" na tradução. Mostra uma panorâmica de Nova Iorque, de Manhattan para ser mais preciso, com "Young at heart" cantada por Frank Sinatra como fundo musical. Sublime, inesquecível. Será que Fellini seria o mesmo sem as trilhas de Nino Rotta? Pergunta idiota, nunca saberemos a resposta. Assim como nunca saberemos se a vida continua. Em certos dias, frente aos desatinos que imperam na esfera errante, me parece restar apenas uma opção. O suicídio. Acabo mudando de idéia. Se é ruim aqui, pode ser pior lá. Lá? Depois, gosto de sorvete de creme. Os jornalistas mais velhos reclamam que o jornalismo está acabando e os jornais encolhendo. O futuro da imprensa de papel é uma incógnita. É fato, as tiragens estão diminuindo, o povo parece ter perdido o interesse nas notícias. Não seria fruto da vida atribulada dos tempos modernos? Quem tem tempo para ler tantas notícias? A vida está cara, sempre precisamos de algo novo. Carros velozes para andar a passos de cágado, celulares com câmeras para não fotografar, televisores de plasma para ver o Big Brother Brasil, tudo isso custa muito dinheiro. Mulheres magérrimas para exibir também fazem parte da receita do sucesso. É preciso trabalhar muito para ter tudo isso. Amante argentina então, nem é bom falar. A virtude está com os que ficam doze horas ou mais no escritório. Deles será o leito vip do Einstein. Estou sem tempo para sentar nas docas da baía e ouvir Otis Redding. Definitivamente estou ficando velho. That’s life...
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
|