Conversa (des)afinada
Mais uma vez o imposto sobre grandes fortunas volta às manchetes. Há alguns argumentos de peso contrários à adoção desse imposto. É fácil enumerar alguns. Em primeiro lugar, poucos são os países que o adotam. Se é um mecanismo tão bom, seríamos nos uns entre os poucos a identificar essa solução maravilhosa? Em segundo lugar, em muitos casos há ‘grandes fortunas’ constituídas basicamente por propriedades, já taxadas por impostos como IPVA e congêneres, além de os recursos que possibilitaram as aquisições desses bens já terem sido ‘mordidos’ pelo Leão. Os detentores de grandes patrimônios imobiliários não estariam aptos a pagar o imposto sem se desfazer de casas, terrenos, obras de arte etc. Finalmente, as realmente grandes fortunas líquidas conseguirão se esquivar através do efeito Depardieu, ou seja, sairiam do País, de maneira absolutamente legal. E são justamente essas, cujo espírito animal dos seus proprietários que se quer despertar, grandes geradoras de empregos. Simples assim. Na ânsia de taxar o “andar de cima”, os estragos ficarão no mezanino. Já circularam números absurdos quanto ao potencial arrecadatório desse imposto, alguns deles da ordem de grandeza do nosso PIB. Deixando de lado a conotação populista por trás dessa pregação, seria interessante que os defensores dessa medida, no próximo congresso nacional do PT avaliassem de maneira objetiva seu real potencial e possíveis inconvenientes. Nem se diga que advogar contra esse imposto é uma atitude antipetista, uma vez que o autor do projeto é o insuspeito (?) FHC.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
|