Conversa (des)afinada
Há um provérbio na região dos Balcãs “A aldeia está em chamas e a anciã penteia seus cachos”. Talvez a terra dos ancestrais de nossa Presidenta tenha tido influência na farsa marqueteira da definição da amplitude do corte orçamentário. Nem supermercado agiria melhor ao estabelecer seus preços. Não é o caso de se discutir se um corte de 70 bi ia ser ou não suficiente. O ajuste é necessário por estar nossa economia desajustada, para usar um eufemismo. Uma vez que o mínimo proposto era 70 bi, o que pode significar apresentar 69,9 bi? Até os farallones da ilha de Capri sabem que não existe uma precisão de 2 milésimos (isso mesmo) numa peça orçamentária. Dois quilômetros a menos numa estrada, alguns funcionários a menos, cortar meia dúzia de cartões corporativos... De mais a mais com a “ajuda” inesperada do PIB que, ao que tudo indica, será menor que o de 2014, ficaremos mais próximos do percentual almejado do superávit primário. Só pode ter sido, então, uma manobra para “enquadrar” o ministro Levy. O fato de ele continuar – oxalá que continue – demonstra que ele tem plena consciência do desastre que seria uma saída sua neste momento. Esse 69,9 é uma vergonha, mistura de populismo, do ‘sabe quem manda aqui?’, de briguinhas nessa equipe econômica, na qual há mais de um pretendente a spalla nessa orquestra cacofônica. Enfim, demonstração de má-fé no seu mais alto grau.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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