Indiferentes, dançavam a pavana, Enquanto o tempo dócil se evadia, Sufocados na fumaça de havana, Na corrente que a vida esvazia. O grupo, que a angústia despistava, Exangue e desprovido de ideal, De Moscou, Pequim ou Bratislava, Vivia o seu próprio funeral. No quarto de estátuas, salpicado De tédio agudo, expressão final, Estavam lá, sem nunca ter estado, Reféns de uma coluna social. O denso vazio da conversa Estampa o ócio na fisionomia. A sarabanda que atrai, perversa, Nos cérebros sem uso, a apatia. Esperanças, na entrada abandonadas, Procuram a lembrança passageira Das ilusões sempre acalentadas No vácuo da mente hospedeira. Ganhar batalhas sem ganhar a guerra, Tragados por insossa calmaria. E descobrir que entre o céu e a terra, Há mais que uma vã filosofia. Não há revolta nem ressentimento, Nessa desordem quase vegetal, Mutismo sela o arrependimento No leito de Procusto sideral. A densa bruma altera o semblante. Escravo é da verdade o corifeu. A voz do coro congela o instante: Baldada a morte pra quem não nasceu. Prisões cósmicas são o cruel destino De ilusões no limbo da razão Fica a procura: mero desatino. Da finitude, singular refrão. Resume-se, ó mundo putrefato Do anódino, do vil, do rotineiro, Na ignorância deste simples fato: Entrega vale, se for por inteiro. (*) Do livro “Desespero Provisório”
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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