Conversa (des)afinada
Segundo Lord Keynes: “é melhor estar vagamente certo do que rigorosamente errado”. Não se sabe qual teria sido a apreciação de algo vagamente errado, que é o caso do balanço da Petrobras. Salvo erro meu, a empresa preocupou-se em quantificar, ainda que de uma maneira tosca, o quanto seus fornecedores usaram para abastecer o ´propinoduto` que foi desembocar em bolsos de... deixa pra lá. Parece óbvio que os fornecedores não se contentaram em colocar um sobrepreço de apenas 3%. O resto, sabe-se lá quanto foi, e de difícil quantificação entrou no bolo mensurado através do tal ´ímpairment`, considerando a época, a cotação do dólar, do barril, os aditivos contratuais etc. Ou seja, tem-se uma ideia vaga do que fizeram os fornecedores com os famosos 3%. Explicação encontrada para 6 bi, o resto foi calculado de forma ´rigorosamente vaga`. Um último detalhe. Ao inflar o valor dos ativos, contabilizados a partir de lançamentos contábeis, a empresa deve ter depreciado esses ativos. Depreciou valores inflados, logo, diminuiu artificialmente o que seria o lucro, e... sonegou (involuntariamente) IR e CSLL. Espera-se que a ´Receita` solte seus perdigueiros, dobermans, ou o que seja, para calcular multas, juros de mora etc. Lembremos Sergio Endrigo: La festa è appena cominciata. È già finita. Resta concordar com a primeira frase. Face a tudo isso, é compreensível que as ações da Petrobras, em via de “privatização indireta”, ... subam.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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