Conversa (des)afinada
Muitas vezes o absurdo de determinadas situações nos remete a Ionesco, Beckett e por que não, Orwell! 1984 já passou, mas ninguém há de duvidar da existência entre nós de um Big Brother grampeando, filmando – com ou sem autorização judicial, e atirando tudo no ventilador. Depois a gente vê. Como no caso da Escola de base, a gente viu. Novos rinocerontes, disfarçados de Robespierre vazam, e haja vazamentos! São nomes, valores no HSBC e alhures. E se forem depósitos legais? Depois a gente vê. Por enquanto vamos jogar no ventilador. Se um entre cada cem ‘ventilados’ for inocente – sejamos otimistas, que diabo! – o mal estará feito. Haverá sempre algum sequestrador pouco informado que agradecerá. Um pouco de paciência. Vamos investigar, deixemos o ventilador para mais tarde. Depois de anos de corrupção – a tal senhora idosa mencionada por gigantes do pensamento, ou a adolescente fogosa, nos dizeres de outros – alguns meses farão diferença? A catarse não pode esperar! Ou seria catar-se? Um velho provérbio da região dos Balcãs, numa terra vizinha daquela de onde, um dia papai Rousseff partiu, diz mais ou menos isso: Primeiro os matam, depois os julgam. É claro que tomar de assalto redutos como a Daslu, enfrentando perigosas atendentes armadas de Louboutins, ou seriam Jimmy Choos mortíferos, há de agradar a alguns. Os dizeres do poeta Horácio numa de suas sátiras: Est modus in rebus – há uma justa medida em todas as coisas – encaixam-se à perfeição. E de pouco adianta salpicar os textos jornalísticos de “supostos”, “suspeitos” num banho de futuros do pretérito. Seria o caso de adorar o bezerro de ouro da Receita? Será que a Receita é infalível? Se for, vamos retirar aquela tela velha, representando o Juízo final da Capela Sistina e vamos colocar umas autuações da Receita em Power Point. Daí, ninguém mais precisará recorrer e aquela voz flagrada numa conversa telefônica não dirá mais que só pobre se... lasca (sejamos educados). A ordem correta parece ser: primeiro investigar, depois autuar e se for o caso punir. Nesse caso, a ordem dos fatores influi no produto. Passear no Porsche do indiciado pode esperar. E Beckett em tudo isso? Ora, ficaremos esperando Godot.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
|