Conversa (des)afinada
Antes de “hurler au scandale” é importante ter em mãos os dados do problema. Não chegamos ainda a esse estágio, ou então as provas não são ainda do conhecimento público. Discute-se a possibilidade de ter havido ´interferências` nos julgamentos do CARF. São seis conselheiros, três indicados pelos contribuintes e três nomeados pelo Ministério da Fazenda. Diz a matéria de O Estado (28/3 B1), numa estranha agressão à Aritmética: “bastava cooptar um voto entre os três conselheiros nomeados pelo Ministério da Fazenda para que o resultado da votação terminasse, não raro, no placar de quatro votos a um. O total não bate. Claro que se houve propina, isso é grave. Mas por que assumir que os representantes dos contribuintes votariam sempre a favor dos contribuintes e os indicados pela Fazenda, contra? A ser assim, a totalidade dos julgamentos terminaria empatada”. Por outro lado, é possível imaginar que as multas impostas pela Receita, diferentemente dos papas, não gozam do privilégio da infalibilidade. Em outras palavras, não são a expressão sacrossanta da verdade. Um dos casos muito discutidos é o tratamento fiscal dos ágios na incorporação dos bancos. Por exemplo, o caso do Santander ao incorporar o Banespa. As autuações nessa categoria foram discutidas e se o Santander – com o qual nada tenho em comum – foi autuado e a multa foi ´apagada`, alguma razão além da corrupção pode ter havido. Que se investigue, óbvio, mas é importante avançar nas investigações antes de se falar em escândalo maior que o petróleo, que por enquanto, merece a pole position. Diferentemente da ´contabilidade criativa` que é puro engodo, o planejamento tributário não pode ser rotulado, a priori de vilão. Para lembrar: Quando um contribuinte pessoa física cumpre sua obrigação anual com o Leão e escolhe apresentar a declaração no modelo simplificado ou completo, ele faz planejamento tributário, sem merecer a pecha de fraudador.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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