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COLUNISTA
Alexandru Solomon
18/03/2015 - 09h00
Jogo do século
 
 
“Faltou luz – culpa de FHC” 2.0

O apelo irresistível por novas e intensas sensações explica a proliferação de eventos ditos ‘do século’, versão rudimentar do já famoso ‘nunca antes na história dessepaiz’. Foi o caso do jogo de basquete da década, século, milênio, como queiram.

Na quadra desfilaram os maiores talentos, assistidos nas arquibancadas por uma plateia exigente, mas sabendo ser pródiga em aplausos, quando julgasse oportuno. E oportunidades não faltavam. Com o risco de cometer horríveis injustiças por omissão, assinalaremos algumas presenças notáveis nas tribunas, nos camarotes e nas arquibancadas. Lá estava Marina da Selva, soprano do teatro Scala de Milão. A seu lado, três irmãos Marx: Groucho. com seu charuto, Harpo. com sua harpa e Karl. com sua urticária. Napoleão Bonaparte alegou uma indisposição estomacal, a mesma da batalha de Waterloo e se fez representar pelos primos François e Francisco – ambos de Hollanda, sendo que o último resolveu abandonar seu duro exílio na Île Saint Louis, depois de receber garantias de que o Fluminense jamais seria rebaixado. Foi notada também a presença discreta de renomado caçador de neologismos que preferiu manter um impossível anonimato, mesmo porque como ocupante do Mistério das Ciências ocultas nada precisaria ocultar. Representantes de outros ministérios, maxistérios e mistérios também estavam lá, mas seria cansativo citá-los. Um público Maduro, em suma.

Eis que surgiram os dois times.

De um lado, conduzidos por Magic Lula, ostentando uma invencibilidade de 12 anos, o Mens sana em salão. Desfilaram seu físico privilegiado, Wilt Chamberlain Dirceu, João Paulo Mallone, Delúbio Larry Bird, Nenê Genoino. LeBron Vaccari. Carmelo Anthony Berzoini e Paulo Bernardo Jordan. Como atração adicional o time ganharia ´resforços` femininos no segundo tempo.

Do lado oposto, entraram Zé lite1, Zé lite2, Zé lite 3, e para não cansar o leitor, a lista termina com Zé lite 12. Todos pertencentes ao grupo que não gosta de ver pobre tomando avião e levando-o para casa.

Antes do apito inicial houve um fremissement na tribuna de honra, motivado pela chegada de Didu Morumbi, escoltado pelo seu fiel mordomo Archibaaaald.

– Archibald, quando o Saint Paul de mon petit coeur marcar, tem direito de aplaudir.

– Mas, milord, é um jogo de basquete.

– Oh, my God, dê-me o binóculo com lentes tricolores, para mim acompanhar o jogo.

– Para eu acompanhar, milord.

– E eu não sei...

Fechemos essa janela indiscreta e vamos ao jogo.

Antes, a vaia ao hino norte-americano e a execução do Ouviramdu por Fafá de Belém

Bola ao ar. De imediato Magic Lula agarra o calção de um Zé Lite e ao ser admoestado, declara nada poder declarar, pedindo apenas perdão ao povo brasileiro. Segue o jogo, alternando-se cestas de dois, de três pontos e cestas básicas. LeBron Vaccari, Nenê Genoino e João Paulo Mallone defendem por zona, aliás está tudo uma zona... Esgotado, Magic Lula pede substituição, e nem terminou o primeiro quarto. O técnico Tony Gramsci o saca do time. Nervoso, Magic faz embaixadas do lado de fora. Após a de Tuvalu, passa a fazer apenas consulados. Termina o primeiro quarto. Para os curiosos, procurem a contagem no Google. O time de Magic está carregado de faltas. De caráter, de decência, de decoro etc., mas o limite coletivo jamais será atingido devido a um embargo intransigente julgado no Supremo e ratificado do Extremo.

Recomeça o jogo e até a metade nada sucede. A defesa prevalece e a contagem não se altera.

No intervalo entre o primeiro e segundo tempo entra em campo um meninão aparentando uns cinquenta aninhos, com um balde de tinta e alguns pinceis. E começa a desenhar um complicado labirinto: o ciclo da via. Melanie Klein explica aos presentes tratar-se de uma abordagem lúdica a uma personalidade cuja infância foi marcada por ausência de Édipo – partido em missão a Moscou.

Recomeça o jogo. O time de Magic apresenta a pivô Marta, enquanto Magic prepara uma pivoa – ela faz questão de ser assim chamada. Sai Marta, entra a Pivoa e o panorama do jogo muda. Didu Morumbi autoriza Archibald a bater 5 vezes palmas em sinal de júbilo. A pivoa começa o show de enterradas. Enterra a Economia, enterra a Iindústria, enterra o Pib e ao escorregar numa poça de água na quadra, consequência de uma goteira ou de alguma pequena marolinha, falha ao enterrar ‘essepaiz’. Magic já está em São Bernardo assando coelhinhos. E o jogo? Verdade. É que a pivoa fez um corta luz, faltou luz no ginásio e o jogo foi anulado.


Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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