Conversa (dês)afinada
Em homenagem aos nossos irmãos portugueses e para não ferir retinas sensíveis, não é o caso de chamar de paneleiros aos praticantes da ruidosa demonstração que coincidiu com a fala de nossa Presidenta. É óbvio que chamar a nossa mandatária de “vaca” é uma manifestação grosseira, imbecil, inadmissível mesmo. Há quem diga que essa metáfora, comparação ou o que seja poderia descontentar ambas as partes. Mas daí, referir-se a essa manifestação como sendo uma tentativa de promover um terceiro turno – obrigado, dois foram mais do que suficientes – promovida pela elite branca é, como dizem os franceses, ‘não ter os olhos à frente dos buracos’. Seria pura perda de tempo perguntar se as invasões das hordas do MST destruindo anos de pesquisa são manifestações democráticas e o bater panelas foi uma entre tantas tentativas de golpe. Num texto que pretendia ser engraçado surgiu a pergunta se os golpistas refestelados em suas ricas mansões teriam sabido localizar a própria cozinha para apanhar as panelas, com ou sem teflon. Ora, mas mesmo se se tratasse do famoso Didu Morumbi, personagem do inesquecível Estevam Bourroul Sangirardi, mandando seu mordomo Archibaaaaald trazer a panela de platina cravejada de rubis no terraço do salão cinza-ratinho, para protestar contra isso que está aí, seria uma manifestação democrática, ou a ‘calle’ é dos justos e aos demais o silêncio reverencial?
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
|