Talvez, mais que o sabor, a maior lembrança que temos do café é o aroma, aquele que se espalha e que informa que alguém está preparando o café. A nossa maior decepção é que não tivemos essa sensação nenhuma vez, embora estivéssemos hospedados na região cafeteira da Colômbia, onde se produz aquele que é considerado o melhor café do mundo. O mesmo não se pode dizer da batata, do plátano (banana) e do milho, que são como nosso feijão e arroz, os alimentos cotidianos. No lugar do pão se usa a arepa, um ícone nacional, feita de farinha fina de milho, semelhante a uma mini pizza, sem muito sabor e sem tempero, que eles preparam na chapa, com queijo ou manteiga. Mas descobri que podem ser salgadas ou doces. Gostei muito do tamal, espécie de pamonha, feita de massa de milho verde e recheada com frango e carne de porco, cozida envolta em folha de bananeira. É uma verdadeira refeição. Mas o melhor de tudo são os sucos e sorvetes de frutas, algumas não conhecidas aqui. Ficamos hospedados em uma espécie de clube, em Armenia, na região cafeteira de Quindio, de propriedade da COMFENALCO, uma associação semelhante ao SESC/SENAC no que se refere à formação e geração de renda, à organização da cultura e do turismo da região, mas que também proporciona um abono familiar, que eles chamam de Caixa de Compensação Familiar. Foi no pátio desse clube que vi uma árvore de folhas grandes e cheias de frutos grandes, mais ou menos com o formato de figos ou peras, mas peludos como kiwi. Descobri que o nome era zapote. Pesquisando, descobri que é da mesma família da sapoti e do abiu. Perguntei a um funcionário se poderia apanhar porque aqui no Brasil não existia. Ele disse que não porque os frutos eram vendidos. No entanto, pegou uma cadeira e apanhou um para eu experimentar. A polpa adocicada tinha a cor de abóbora bem madura. Ao me ver comendo a zapote, fiquei rodeado de crianças e me perguntaram se podiam pegar e, brincando disse: “Só os mais velhos podem pegar.” Ficaram me olhando com uma cara de espanto e de decepção, como a raposa da fábula. Depois, em Cartagena, pude saborear o suco e o sorvete, que são muito bons. Em uma outra cidade, chamada Finlândia, conheci outra fruta chamada lulo. Primeiro conheci o suco e o sorvete e depois a fruta. Seu sabor lembra o umbu. A fruta é como um tomate grande, cor de laranja e casca lisa semelhante a um jiló. Nas praças da Candelária, um bairro turístico de Bogotá, se vendem muitos sorvetes e suco de guanábano, que é a nossa tradicional graviola. O que espanta é o tamanho delas, quase do tamanho de uma melancia. Os picolés vem com pedaços da fruta. Daí em diante passou a ser um hábito, caminhar degustando picolés de guanábano. No café da manhã (desayuno) serviam uma fruta chamada granadilla. Aprendemos que para comê-la temos que amassá-la pressionando-a entre a palma das mãos. A casca parece feita de isopor e que se quebra em pequenos pedaços, que vão sendo retirados um a um. Fica uma casca interna branca, como a pele interna do maracujá. Quando essa pele é rompida, a polpa é semelhante ao maracujá, menos ácida e mais doce. Outra fruta com polpa semelhante ao maracujá é a curuba, mas que tem a aparência de um pequeno pepino. Ao descermos do Monserrate, em Bogotá, caminhando pela Candelária, experimentamos uma longan, parecida com nossa pitomba, mas mais doce, com mais polpa e de cor verde. Minha lembrança de pitomba era desagradável, uma fruta quase sem polpa, e que deixava uma ardência nos dentes. Nunca entendi a alegria da criançada correndo atrás do carrinho do vendedor de pitomba, lá no Pará, em uma de minhas viagens. Além dos sabores, o que ficará sempre é a lembrança de um povo acolhedor, alegre e musical.
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
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