Na segunda metade da década de oitenta a economia alemã avançava a todo vapor. Quem chegasse ao planeta imaginaria que o eixo tinha vencido a guerra. Alemanha e Japão iam de vento em popa e a Itália, quem imaginaria, tinha passado a Inglaterra em termos de PIB. O marco alemão estava com cotação alta e estável, os xerifes da economia mundial resolveram que deveria ser desvalorizado. O alto clero do FMI rumou para Bonn. Foi dar a receita da felicidade, parecida com a que afundou a América Latina. Em Alemanha os doutos senhores tomaram um gigantesco chá de cadeira do chanceler Helmut Kohl. A comitiva inquisitória aportou pontualmente às nove horas. Foi recebida às dezessete, por alguns breves instantes. Consta que o chanceler nem sequer os convidou para sentar, pegou as recomendações e quando os sábios saíram, usou os papéis para atiçar o fogo da lareira. Lembrei-me do fato, que foi rememorado recentemente pelo jornal "The Independent", numa versão que transcrevi livremente. Suponho que com excessiva ironia, sempre presente na Inglaterra quando o assunto é a Alemanha. O protocolo não seria quebrado tão rudemente pelos alemães. Na prática a coisa funcionou exatamente como o jornal relatou. A Alemanha deu uma banana para o FMI. Pensei no significado da dependência quando li hoje que o "mercado" está agitado e as bolsas de valores despencando por causa de roncos nos intestinos da economia mundial. Isso é o que se pode chamar de dependência. Vamos bem se os outros vão bem. Não somos donos do nosso destino, o que é de se lamentar. O Brasil precisa mudar essa realidade sombria. Como não sei, não sou torneiro mecânico, nem tampouco socialista. Sou apenas professor e jornalista.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
|