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COLUNISTA
Alexandru Solomon
13/10/2014 - 07h00
Refrescando a memória
 
 
Conversa (des)afinada

Um dos cavalos de batalha do PT consiste em comparar os governos que se seguiram ao de FHC – aqueles depois que o Brasil foi finalmente descoberto – com a sábia condução da política econômica por parte do PT. Fim dos capitalistas loiros de olhos azuis, derrotada a elite perversa incomodada com pobre andando de avião e outros achados marqueteiros que primaram pela inverdade.

Para início de conversa todas as comparações pecam por um detalhe algo evidente, porém cuidadosamente escamoteado: não faz sentido comparar um menino de 8 anos de idade com um rapagão de 20. Ou faz?

Falemos um pouco do “governo dos juros altos”. É verdade que em 1999, em meio a uma turbulência que pegou o País desprotegido, a taxa Selic alcançou um pico de 45% a.a. No entanto, foi uma medida extrema. Para quem gosta de curiosidades, em setembro de 1992, o Riksbank, o Banco Central da Suécia, elevou a taxa básica de juros para quinhentos por cento (500%)! Aos poucos, a taxa Selic diminuiu. Talvez seja interessante recordar que no apagar das luzes do governo FHC, Armínio Fraga, o “homem dos banqueiros” elevou a taxa Selic (dez 2002) de 22% para 25%, para facilitar a vida do sucessor. Conduzido ‘pelos braços do povo’, Lula não só manteve esse nível, mas o aumentou até 26,5%. Como? Não é possível! Intriga das elites! No entanto é verdade.

A tal ‘terceira quebra do Brasil’ foi tomar emprestado parte de uma linha de crédito junto ao odiado FMI (pedimos colo ao FMI, diz a propaganda petista. Bem, até os Estados Unidos já pediram, sem abdicar da soberania). Lula quitou os US$ 4,2 bi. Como? Emitiu títulos da dívida – à taxa Selic – e pagou um empréstimo a juros menores. Algo como o genro que odeia a sogra, a ponto de tomar dinheiro com agiota para pagar um empréstimo da sogra que cobrava juros menores.

As reservas atuais acumuladas, algo como U$ 380 bi, não surgiram de superávits comerciais: foi a mesma ideia, endividar-se – não junto aos bancos nacionais, mas aos odiados aplicadores, pagando juros Selic para aplicar essas reservas em moeda forte com rendimentos muito menores. É a operação de carry trade à moda lusitana, com todo o respeito que os descendentes do marquês de Pombal merecem. Ninguém fez as contas para saber quanto custou ao País esse corococó ufanista, assim como poucos admitem outro fato simples: o dinheiro repassado ao BNDES, para financiar campeões, não cai do céu. É um dinheiro conseguido através de emissão de papéis da dívida, cuja contrapartida, que não impacta o endividamento líquido do País, é um dinheiro rendendo algo como a TJLP – isso quando os ‘campeões’ pagarem, se pagarem – e que o BNDES tão logo não devolverá. A diferença? Algumas Bolsas-Família.

É importante que a verdade seja conhecida. Não faz sentido usar punhos de renda, quando o oponente usa soco inglês.


Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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