Conversa (des)afinada
Não há como contestar. O IBGE cometeu um erro. Que tenha sido um erro de ponderação, o uso de uma planilha errada, é fato que as conclusões foram afetadas. A pressão levou ao erro. Nem cabe a desculpa ginasiana “o raciocínio estava certo, professor”. Pronto: zero na prova. O impacto político pode ser medido pelo fato de uma ministra em plena licença médica convocar uma entrevista coletiva. Mais ainda, a presidenta, que usualmente fica furiosa até com erros menores, qualificou de inaceitável o erro, determinou a abertura de uma comissão para investigar e descobrir responsáveis. Faltou emprestar uma réplica da comédia “O Mensalão” e declarar que haverá rigor máximo nas punições. Mas por pior que tenha sido o erro conceitual, ao menos no caso da determinação do coeficiente de Gini – indicador da concentração de renda, não se pode dizer que houve um desastre. Com efeito se o indicador evoluiu de 0,496 em 2012 para 0,495 em 2013 e não para 0,498, como foi erroneamente relatado, é melhor não trocar o abatimento causado pelo índice inicial pela euforia incontida devida ao recálculo. É muito mais razoável falar que de um ano para o outro nada mudou. Não tem sentido falar numa tempestade numa duvidosa terceira casa depois da vírgula. Essa precisão não existe nem antes nem depois do erro. É melhor considerar as condições de trabalho. As restrições orçamentárias e a pressão a que está submetido o IBGE são motivos de preocupação maior, pois minam a credibilidade da instituição. Louve-se a rapidez com a qual foi descoberto e corrigido o erro, assumindo-se a culpa, sem atribuí-la aos culpados usuais, as elites, a imprensa golpista, as forças da direita etc.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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