Conversa (des)afinada
O excelentíssimo sr. ministro com prazo de validade vencida, exercendo suas tarefas em pleno aviso prévio, chega a despertar pena com suas declarações. Profeta de um crescimento que teimou em não se materializar, especialista em apostas perdidas de antemão, arúspice amador, seguidor de Sartre ao atribuir aos ‘outros’ os fracassos da política econômica, protagonista destemido de uma ‘guerra cambial’ imaginária, ora insurgindo-se, ora contra o ‘tsunami financeiro’ – se bem que a expressão não lhe tenha pertencido – ora contra a fuga dos capitais covardes, conseguiu um gol de placa. Na entrevista ao Estadão 19/9 B4, soltou essa pérola, verdadeira chave de ouro: “Agora que a inflação caiu, achamos que não haverá pressão no início do ano que vem..” Mil perdões excelência, é difícil fazer previsões, sobretudo sobre o futuro – frase cuja autoria pode ser reivindicada por diversas personalidades, Mark Twain e Niels Bohr, entre outros – mas insultar o presente e falar na queda da inflação, quando o acumulado dos últimos 12 meses ameaça ficar fora da “meta ampliada”, conceito criado para criar uma ilusão quanto a eficácia do controle, é negar o óbvio no contexto da artificialidade dos preços administrados sendo ‘administrados’. Um humorista italiano – Marcello Marchesi – falava no “Doutor Divago” ao se referir a Aldo Moro. “Morreu antes de conhecer nosso Ministro da Fazenda”.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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