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COLUNISTA
Alexandru Solomon
29/08/2014 - 12h07
O primeiro debate dos presidenciáveis
 
 
Conversa (des)afinada

Foi um sofrimento imerecido, mas cada um de nós possui sua dose de masoquismo. Pelo menos estivemos ‘presentes’ de livre e espontânea vontade, não pegos de surpresa por uma daquelas pérfidas inserções, que atacam quando menos se espera. Como o mordomo oriental do inspetor Clousseau. A impressão que se depreendeu era que os candidatos estavam falando para a plateia, não uns com os outros. “O candidato parece ignorar que”, “a candidata omitiu...” etc. As regras estabelecidas para o debate, a exemplo do que aconteceu em outros carnavais engessaram o debate. Pergunta, resposta, réplica, tréplica, e vamos em frente que atrás vem gente!

Considerando o horário e a audiência padrão da Band foi um desperdício de energia por parte dos candidatos, ou então apenas um warm-up para futuros embates. “Eu me pergunto: por que ninguém investigou o afundamento da maior plataforma de petróleo [P-36 em 2001]? Que custava 1,5 bilhão de dólares”. Perguntou nossa presidenta. Investigar o acidente, não parece ser uma boa ideia para melhorar a imagem da Petrobras e, definitivamente, não foi FHC que afundou a plataforma. Na verdade, é um argumento nada desprezível a favor da privatização. O show de incidentes advoga em favor dessa ‘heresia’. Segundo informações da época do acidente, o custo da plataforma teria sido de 430 milhões de dólares. (Veja 21 de março de 2001). Havia um seguro de quase 500 milhões de dólares, cobrindo a perda, não cobrindo, porém, a produção perdida, nem a parte submersa. Não foi o caso de Pasadena, mesmo porque não há seguro contra compras desastradas, decorrentes de relatórios falhos. Tampouco não foi o caso da refinaria Abreu e Lima, por enquanto uma sinfonia inacabada. Afirmar que o valor de mercado da Petrobras aumentou negligencia um detalhe: a famosa capitalização. O que fez a Petrobras com o dinheiro? A cessão onerosa explica: Adquiriu 5 bilhões de barris do pré-sal. Seria exagero dizer que enterrou dinheiro lá, mas com esses recursos poderia ter evitado o seu endividamento colossal. Aqueles que compraram ações da Petrobras com o dinheiro do FGTS estão a se perguntar onde está a tal valorização. Em algo que poderia ser considerado um ato falho da candidata a reeleição, veio a afirmação: Se plebiscito e um ato de bolivarianismo, a Califórnia é bolivariana. Então, tá. Bolivarianismo seria algo ruim, porém desculpável por existir na Califórnia. Até agora, os bolivarianos não eram um exemplo de democracia? Disse-o Lula!

E dá-lhe comparações com os anos FHC. Faltou frisar que a população do Brasil é hoje maior do que naquele período que deixou uma herança maldita a herdeiros... inábeis.

Não faltaram falas estranhas, como aquela afirmação segundo a qual os juros de nossa dívida interna engordam os banqueiros. Seria o caso de se comparar o tamanho da dívida com os ativos dos bancos... Ah... temos também a raça maldita dos rentistas... certo, esses devem ser enquadrados por terem dinheiro aplicado. Parece que o problema, na visão de dois dos debatedores é o monetarismo. Pobre Milton Friedman!

A ideia democrática de juntar ao “trio de ferro” os divertidíssimos nanicos – que até desempenharam com brio seu papel – surtiu o efeito soporífero esperado. “A mim ninguém pergunta nada”, suspirou a candidata do PSOL... Bem feito para nós, pobres mortais! Quem mandou ficarmos acordados? Pobres dos telespectadores, isso sim!

Apesar de ter havido inúmeras alusões à mudança, nas suas diversas modalidades, em discursos que precederam o debate, nada se falou na tal mudança, talvez para evitar que telespectadores meio adormecidos não pensassem tratar-se de um comercial da Lusitana, aquela que roda, enquanto o mundo gira.

Cada vez mais fica evidente que a existência da TV paga é uma alternativa indicada para as noites de insônia do eleitorado.


Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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