Depois que Roberto Carlos declarou peremptoriamente, que, ao entrar no carro, a solidão causava-lhe dores, houve quem, maldosamente, passasse a conjeturar quanto às interpretações possíveis do termo. Seres insensíveis chegaram a abusar de perífrases injuriosas, baseadas em tão comovente texto. Pois bem, irão me perdoar se eu não for deslizar pelas ondas do saudosismo, se eu deixar, mesmo a contragosto, de cavalgar metáforas batidas e se, enfim, tentar dar uma interpretação jocosa ao drama. Para os aficionados do bem escrever isso poderá parecer um insulto. Asseguro-lhes que não é essa a intenção. Constatar que iniciamos e concluímos nossa trajetória no planeta de maneira solitária é um equívoco. Alguém nos traz e alguém nos despacha. Ao menos uma pessoa. Quanto ao resto, cabe-nos gerenciar essa contingência. A menos que uma esmagadora maioria declare: `Não queremos a cura, queremos curtir a doença´. Então, tudo muda de figura. Transformamo-nos em sofredores profissionais, atarefados em decifrar o enigma da nossa finitude. De tão envolvidos nessa tarefa, engordamos, envelhecemos e, se outro mal não se antecipar, enfartamos. Schopenhauer diria isso bem melhor, mas, no momento, o telefone dele está na secretária eletrônica. Quem disser que está só, nunca pensou em olhar as ondas do mar, nunca se apaixonou por um livro, não se encantou com um cachorrinho, não amou de verdade nem ao menos procurou um encanador depois da meia-noite. Como consolo, ainda nos resta saber que nossa sombra irá nos acompanhar, ao menos em ambientes iluminados. Nossos pensamentos estarão a postos e o Fisco estará sempre presente para nos dizer que não estamos sós. Querido Leão! Para ele, jamais seremos invisíveis. Então, caro amigo, vamos erguer um cálice de vinho, para começar e vamos brindar a essa agradável tarefa: Viver. De tão complexa nem nos deixa descobrir que estamos mergulhados na mais profunda e inextricável solidão. De bom tom me dizem todos é chorar sem ter motivo. Choro que se agiganta, torna-se superlativo. Se em vez de um neurônio ao menos houver dois, Viva a filosofia. Choro fica pra depois. Lamentar, desconsolados, essa nossa triste sina,
É inútil, reprovável, cansativa sabatina. Otimista por instantes, sei que não será demais. Posso sofrer de outros males, mas de solidão... Jamais. Pois então, ao agredir as musas e homenagear Baco, pode ser que nos seja dada a felicidade de divisar, lá longe, a famosa luz ao fim do tantas vezes mencionado túneL. Estando com a conta de luz em dia, ela não irá se apagar. Caspite, onde estão meus leitores? Socorro! Não me deixem só! Dizem que a solidão grupal tem seus encantos, logo, vale a pena ser vivida. Tchin, tchin. (*) Do livro “Sessão da Tarde”, Ed. Edicon.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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