O dia começou mal. Precisando de uma informação do jornal do dia seis, dirigi-me à biblioteca. A moça do balcão, depois de muito procurar, disse que não tinha. Felizmente tinha dois exemplares do dia três. Será que não serve? Não serviu.

Estou pesquisando para escrever as memórias de meu tio avô que morreu na Itália, na segunda guerra mundial. Tio Jácomo tornou-se uma lenda plena de controvérsias. Para uns foi um bravo herói, para outros não passou de um suicida.

Estou procurando os poucos que restam vivos e que presenciaram sua morte. Vou entrevistá-los para um livro sobre a família. Segundo a história, o bravo Jácomo enfrentou uma divisão Panzer. Sozinho.

Os tanques estavam entrando na aldeia. Ele postado defronte ao prédio da prefeitura esperando. Na cintura, ameaçadora, a garrucha de carregar pela boca. - Stop maledetti.

Eles não pararam. O recolhedor de cadáveres enrolou o corpo como uma toalha.

Tia Assunta, mulher prática, queria enterrá-lo num envelope, só a muito custo concordou em comprar um caixão. Antes do derradeiro episódio, tio Jácomo esteve na África, a serviço do Comintern.

O jornalista e comentarista de rádio internacionalmente conhecido Henry J. Taylor também estava lá. Contou ao mundo a fantástica história do encontro de titio com um leão. Certa noite Jácomo voltava ao acampamento quando um enorme leão saiu da mata a poucos metros de distância. O leão ameaçou saltar.

Jácomo sacou a garrucha e disparou. Errou.

O leão, enfurecido, deu um salto grande demais e passou por cima dele, que se abaixara. Titio conseguiu correr e escapou. No dia seguinte, tratou de praticar tiro ao alvo, era impossível errar de tão perto. Ouviu um ruído na selva, ao espiar através de uma moita, viu o leão treinando saltos curtos.

Em 1932 Jácomo Borges sagrou-se campeão, no torneio da Lombardia de comedores de porpetas. Comeu 68. Quando teve alta disse que iria treinar muito para o campeonato seguinte.

Infelizmente não pode participar, estava com crise de gota.