Conversa (des)afinada
Parece que os representantes graduados de nossa inteligentsia resolveram partir para a taxonomia delirante, aplicada às manifestações de rua. E as ovelhas de Panurgo tanto na grande mídia, quanto na blogosfera adotaram a classificação. É um absurdo galáctico falar que ‘isso que está aí’ é apenas o exercício democrático do direito de defender um ponto de vista, uma causa, um direito legítimo ou nem tanto separando-o da barbárie, quando na verdade estamos diferenciando apenas diversas nuances de brutalidade. Para não divagar em demasia, basta afirmar que até hoje não houve manifestação pacífica alguma. O que houve foram manifestações com vandalismo e sem vandalismo. As chamadas manifestações pacíficas nas quais grupos ou grupelhos tolhem o direito de ir e vir do cidadão comum, do trabalhador ou de um mero nefelibata a passeio, direito garantido pela Constituição, são não violentas mas não deixam de ser agressivas. Os Anti-Copa, os integrantes do MTST, os professores e por aí vai desfilam sua indignação, protestam, vituperam onde? No Sambódromo? Não! Nas principais artérias entupidas das nossas metrópoles. Entre a meia-noite e as 4 horas da manhã? Não! No horário no qual podem causar o máximo transtorno para, ao impor sofrimento, chamar a atenção. Os black blocs são apenas a cereja podre em cima do bolo. Vamos convir: golpes acima ou abaixo da cintura doem. Não é preciso ser o marquês de Queensberry para concordar. E é dessas pancadas que se está falando.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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