Numa manhã ensolarada de setembro de 1965, Susan O’Hara trafegava pela rodovia que contorna a baía de São Francisco dirigindo um Ford Mustang que acabara de ganhar. Era um coupê branco, ela tinha completado 18 anos há menos de um mês. Susan pertencia a uma das mais tradicionais famílias da Califórnia, seu pai era um rico empresário da construção civil que esteve prestes a ser indicado candidato ao governo do estado pelo partido republicano. A família morava num rancho distante 60 km da cidade, naquela manhã Susan ia para São Francisco onde estudava arquitetura. Ela nunca chegou ao destino, foi encontrada morta ao volante do Mustang. O carro estava parado em frente a uma árvore, onde bateu de leve. O corpo, debruçado sobre o volante, não apresentava sinais de ferimentos, o legista demorou até perceber um pequeno orifício de bala atrás do ouvido esquerdo, que quase não produziu sangramento. Começou uma investigação que parecia ter um destino certo, Sidney MacLuhan, ex-namorado de Susan. Inconformado com o fim do namoro ele tinha o hábito de rondar a casa da garota, tendo sido ameaçado pelo pai dela. Caso fosse encontrado nas imediações da casa seria processado por assédio. Na ocasião ele teria dito que ainda faria uma loucura se ela não voltasse para ele. Interrogado, tinha um álibi inquestionável, naquela manha ele estava no Hospital Metodista de São Francisco onde sofreu uma pequena cirurgia para a retirada de um quisto sebáceo das costas. Ele não poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo. O estado de desespero que o acometeu ao receber a notícia acabou por convencer a polícia e a família de sua inocência. O carro trafegava com os vidros fechados, menos os traseiros. Eram vidros pequenos, a manhã estava quente e Susan deixou que a brisa entrasse por eles. Depois de semanas de investigações infrutíferas a polícia preparava-se para arquivar o caso. Nesse momento um investigador do FBI teve a idéia de fazer um exame mais detalhado da bala que matara Susan. Era uma bala calibre 22, disparada de um rifle de caça. A bala e o rifle tinham sido fabricados na Tchecoslováquia, o rifle era caro e havia poucos exemplares nos Estados Unidos. Uma investigação que demorou meses chegou à conclusão de que havia apenas três armas daquelas na Califórnia e apenas uma em São Francisco, por coincidência pertencente a um dos mais destacados cirurgiões do país, Dr. Robert Stanton, que morava perto do local da morte. Consultado sobre a fatídica data, Dr. Robert lembrou-se de ter atirado no lago que ficava em frente à sua casa, ele fazia isso sempre que limpava as armas. Naquela manhã ele disparou mais de 20 tiros. A arma foi levada para exames. O tiro partira dela. A informação acusou um grande choque, havia testemunhas para confirmar as palavras do médico. Uma reconstituição detalhada mostrou que a bala fora disparada na direção da superfície do lago, para evitar que pudesse ferir alguém. O ângulo do tiro fez com que ela ricocheteasse e fosse em direção ao bosque de pinheiros que havia em frente. Sem bater em nada atravessou o bosque e também uma faixa de floresta natural onde havia árvores de grande porte. Desviando-se dos obstáculos, teve sua trajetória cruzando com a do Mustang, um dos poucos carros que passaram pela estrada naquela manhã. A bala ao chegar ao carro tinha pouca energia, entrou pelo vidro traseiro aberto, se estivesse fechado ela seria desviada. Com pouca energia, a bala não teria como penetrar na dura caixa craniana de Susan, porém tinha energia suficiente para perfurar a parte menos rígida do crânio, justamente atrás do ouvido da garota. No total a bala percorreu mais de seis quilômetros antes de causar o ferimento fatal. Um matemático da UCLA interessou-se pelo caso, depois de muito calcular chegou à conclusão que um evento idêntico só daqui a 20 bilhões de anos. É o que podemos chamar de coincidência. Alguns disseram que foi azar.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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