Na semana passada fui convidado para assistir uma apresentação de estudantes de urbanismo. Na ocasião foi apresentada uma proposta para a Ilha dos Pescadores. Os rapazes que palestraram são alemães, estudam em Hamburgo, estão acostumados a encarar os problemas urbanos com uma óptica diferente do descaso que há por aqui. Na Europa qualquer ação modificadora tem grande impacto, conciliar o novo com o existente, muitas vezes construções milenares, não é tarefa simples. Em Paris aconteceu um rompimento quando Renzo Pianno venceu o concurso para a construção do Centro de Artes Jorge Pompidou, mundialmente conhecido como Beauborg. O contraste com o entorno é evidente, para não dizer chocante, na época diziam que o prédio parecia uma refinaria de petróleo. Pode até parecer, mas o conjunto que se apresenta aos olhos é harmonioso, enquanto produz a sensação de espanto que é prerrogativa da arte. Eu disse espanto, não terror, como acontece com as obras de nossa cidade. Os muito práticos que me perdoem, mas arquitetura é mais do que levantar paredes e colocar coberturas, há que haver inventividade e emoção. O homem, que tem a possibilidade de modificar o meio ambiente, deve procurar fazê-lo sem ferir a sensibilidade dos demais seres vivos. Voltando à palestra, gostei de tudo o que vi. Acredito que se posto em prática o plano dos rapazes só trará benefícios à cidade. Não se trata de uma visão de colonizadores europeus, mas de estudiosos de urbanismo; se o problema fosse proposto na FAU-USP certamente teríamos soluções das mais interessantes, lá também são degustados biscoitos finos. Está na hora da cidade começar a usar a Universidade. Imagino quantas soluções brilhantes os estudantes poderiam oferecer, ávidos que estão por mostrar talento. Estudantes não têm os vícios da estrutura pública, presa aos ritos da burocracia que a tudo emperra, não têm ligações político-partidárias, seu interesse é centrado na qualidade do trabalho. Por que não usar esse recurso tão bom e barato? Não estragar o que a natureza nos deu com edificações de mau gosto é uma manifestação de urbanidade, para justificar o título.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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