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COLUNISTA
Sidney Borges
27/04/2004 - 10h33
Nostradamus
 
 

O sebo do Bado Todão é o meu passeio preferido. Eu tenho a mesma opinião do meu homônimo famoso, Jorge Luis Borges, que perguntado como seria o paraíso, disse imaginar uma espécie de livraria.

É um alento, que bom passar a eternidade numa livraria infinita, com todos os livros que já foram escritos e os que ainda serão. Difícil será ir para o paraíso, provavelmente irei para o inferno que imagino um lugar com uma gigantesca televisão exibindo novelas mexicanas e programas do gênero Big Brother.

Que tristeza passar a eternidade assistindo a Sílvio Santos, quem mandou pecar? E como é bom pecar, quem será que inventou essa história que pecar é pecado? E o pior será a companhia dos padres pedófilos, há milhares deles no inferno, chegam todos os dias de todos os lugares do planeta.

Passam os dias implorando garotinhos, garotinhos. Jamais serão atendidos.

Voltando ao sebo do Bado, além dos livros, invariavelmente encontro alguém que nunca vi e que acaba se tornando velho amigo em meia hora. Livrarias operam essa mágica, quem gosta de livros costuma gostar de quem gosta de livros.

Um dia desses comprei um exemplar encadernado do excelente "Goldfinger" de Ian Fleming. Como escrevo ficção, presto imensa atenção aos escritores que conseguiram tornar-se conhecidos e viver da literatura sem apelar para a auto-ajuda ou para a religião. É difícil criar uma história que prenda a atenção dos leitores, além de algum talento há que haver trabalho e dedicação.

Estou apreendendo, aliás, estou sempre apreendendo, é o que os orientais chamam de carma, vim ao mundo para apreender. De vez em quando ensino um pouco do que aprendi. Depois de escutar histórias interessantes na livraria, fui para casa e deixei o livro na lista de espera, eu estava lendo seis livros simultaneamente, enquanto não terminasse pelo menos quatro não iniciaria outro.

Semanas depois comecei a leitura. Lembrei-me do filme, da música tema cantada por Shirley Bassie e quando dei por mim estava na página quarenta misturando lembranças do filme com o texto fantástico do livro.

Por alguns momentos eu havia saído do mundo real e adentrado ao universo britânico de Ian Fleming, transportado nas asas da literatura, veículo de encantamento. Súbito, quando o sono estava vencendo a vigília, ao virar a página, caiu uma folha. Ao apanhá-la pareceu-me que estava lá havia muito tempo.

Era uma folha de papel arroz, muito fino, dobrada ao meio e amarelecida. Desdobrei o papel com cuidado, frágil qual pestana de santo. Nele havia um texto escrito com tinta nanquim desbotada. Os caracteres me pareceram cirílicos. Eu estava com muito sono, guardei a folha no livro, no outro dia eu cuidaria dela. Dessa forma, acabei encontrando um texto aparentemente inédito de Nostradamus, foi o que me informou o professor John Pierce do King’s College de Cambridge para quem enviei um e-mail com o texto, depois de passá-lo no scanner.

Ele pediu que eu tirasse um fragmento do papel com muito cuidado e o enviasse para que fosse estudado no laboratório. Em caso de autenticidade, além da curiosidade satisfeita poderia valer um bom dinheiro.

Dias depois veio a resposta, era um texto autêntico, o papel de fabricação chinesa era idêntico aos que foram encontrados nos aposentos de Nostradamos, logo após a sua morte. Aparentemente era de um lote que ele encomendara em Xangai. Junto com a boa notícia vieram instruções para que fosse feita uma cópia cuidadosa, afim de que eles pudessem decifrar o texto.

Nostradamos além de visionário era um grande gozador, no meio de textos da maior seriedade aparecem alguns que não fazem sentido. Prefiro pensar que talvez não tenham sido interpretados corretamente. Algumas semanas depois recebo um e-mail com o texto traduzido, o professor John não atribuiu maiores significados aos escritos, entretanto enviou uma cópia ao professor Thomas Carlyle de Glasgow, a maior autoridade em Nostradamus das Ilhas Britânicas.

Depois de semanas de trabalho diuturno, o professor enviou-nos o seguinte texto: Lúnulas, moluscos cefalópodes decápodes, com concha dorsal reduzida a uma pluma córnea. Aparecerão aos milhares no reino de Architeuthis princeps, na terra em que nada dá certo. Canhumbibe. Era a primeira parte do texto traduzido. Em princípio não queria dizer nada, mas aos poucos notei que havia alguma coerência entre o que estava acontecendo na realidade e o texto do visionário Nostradamus.

Havia uma pista clara, Canhumbibe. Não seria Cunhambebe? Terra que nada dá certo, não pode haver dois lugares semelhantes no Universo, Nostradamus estava falando de Ubatuba.

Lúnulas são lulas, Architeuthis princeps é o nome científico da lula gigante, espera aí reino da lula gigante, seria o Brasil? É claro, Nostradamus estava dizendo que alguma coisa iria acontecer em Ubatuba quando aparecessem milhares de lulas. É o que está acontecendo, nunca houve tantas lulas nestas águas. A lula gigante a que ele se refere deve ser o presidente Lula que é um gigante político além de ser um gigante físico para qualquer lula que não seja gigante. Minha curiosidade acendeu, fiquei excitado e ansioso, o que é um perigo, acabo comendo demais nessa ocasiões, o que me deixa em forma. De pêra.

No próximo texto viria o complemento da tradução com a mensagem completa e então saberíamos o que iria acontecer em Ubatuba após o aparecimento das lulas. Milhares de lulas, ou melhor milhões de lulas. Porradas delas! Na seqüência veio a previsão apocalíptica: Os arcanos dos desígnios dos portais tântricos arfam nas brumas védicas dos imensos alphadicos. Esse é o velho Nostradamus, enigmático pacas.

Isso quer dizer que após as lulas haverá muito peixe, e que mesmo com muito peixe e com muita lula não haverá aproveitamento de tanta fartura para atrair os turistas que poderiam deixar uma boa grana nos caixas dos estabelecimentos comerciais da cidade que estão matando cachorro a grito. E no final Nostradamus completa dizendo que enquanto estiver sob o domínio das trevas e sem uma política de turismo, Ubatuba será eternamente a cidade em que nada dá certo.

O final do texto dá o que pensar. O povo não sabe votar.

Não foi Pelé que disse isso?


Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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