As leis brasileiras precisam de alguns ajustes. Se um cidadão for preso traficando drogas, crime inafiançável, irá para o xilindró. Uma forma do criminoso se livrar da cadeia é cometer outro crime. Matar o policial. Sendo primário e evitando o flagrante, responderá em liberdade. A excrescência jurídica remonta ao tempo do delegado Sérgio Paranhos Fleury, um dos chefes da repressão à luta armada. Envolvido nos crimes do esquadrão da morte, Fleury acabaria preso, mera questão de tempo. A saída encontrada pelo sistema foi a criação de uma lei, logo batizada de "lei Fleury". Serviu para proteger o Delegado que tinha "bons antecedentes". Continua servindo para proteger assassinos. Fleury permaneceu em liberdade e desfrutou de popularidade nos círculos da direita radical, que o tinha como herói e o protegia. Os militares o viam com reservas, embora tenham usado seus serviços, nunca o toleraram. Não o consideravam como um igual, foi útil em circunstâncias especiais, havia um trabalho sujo a ser feito e ele soube fazer. Fleury, que sabia demais, morreu "do coração" ao cair do barco na Ilhabela. Na época muita gente comemorou, adversários que o odiavam e aliados que o temiam. Talvez um dia ele revelasse o que sabia.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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