O pirata John MacEvan esteve em Ubatuba por volta de 1760, quando foi amaldiçoado por uma cigana na feirinha hippie, cuja existência remonta aos tempos da pedra lascada. Não só tornou-se maldito, mas também ganhou o apelido de Ali Pertinho, para dar vazão ao sentimento que despertou na população, de verdadeira repulsa. Seus espelhinhos eram os mais caros que havia, as contas coloridas também, Ali Pertinho amealhou uma fortuna, roubando as economias dos pobres nativos, iludidos pelo colorido d’além mar. Vendeu sedas, especiarias e apitos, muitos apitos, índios gostam de apitos, é dessa época a máxima: índio quer apito. Vendeu caro, quase sempre à vista e, quando parcelava, os juros eram de amargar, moda que pegou na terra, onde os juros continuam de amargar. Voltando à maldição, a cigana rogou uma terrível praga dizendo que o tesouro de Ali Pertinho acabaria aqui pertinho, enterrado numa praça, num local onde no futuro seria erguido um edifício que abrigaria uma importante organização para atrair gente de fora. A cigana disse que qualquer mortal que adentrasse àquela casa, de lá não iria mais querer sair, não mais largaria o osso, por nada deste mundo. Tudo por culpa da avareza de um gringo que explorou nossos antepassados e acabou rico, vivendo muitos anos com saúde, dinheiro, bebidas e mulheres, só não ouvia rock and roll porque não existia, embora fumasse uma erva do norte. Dizem os que entendem do oculto que está muito bem no paraíso onde é uma espécie de ajudante da administração. Desde a passagem desse crápula pelo Litoral Norte, o tesouro de Ali Pertinho, enterrado na praça da biblioteca, portanto aqui pertinho, vem tornando difícil a vida dos governantes da terra. A maldição só acabará quando alguém descobrir por que cargas d’água, um filho de Deus, batizado segundo os ritos cristãos com o nome de John MacEvan, recebeu o apelido de Ali Pertinho, o que não faz o menor sentido. Mas que alguma coisa de verdade há na tal lenda isso é inegável. Nunca houve osso tão disputado como o que há na tal praça. Ali pertinho!
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
|