Conversa (des)afinada
A respeito das alegorias carnavalescas nas contas públicas, mencionadas por Marco Antonio Rocha no seu artigo em Estado 11/2 B2, com a ressalva de a relação ser incompleta, já que novos adereços compõem ou comporão a fantasia, ficou implícito um convite a reflexão. A quem essas acrobacias pretendem enganar? Afinal, foram praticadas com algum objetivo, ou não? O cordão dos puxa-sacos, mesmo sem aumentar cada vez mais, estará aplaudindo qualquer tipo de número. Poderá eventualmente escandir “O superávit é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo”. A ala dos analfabetos funcionais e assemelhados, não sabe, não quer saber e tem raiva de quem sabe o que é um superávit, seja ele primário, ginasial ou nominal. Saber que a meta foi alcançada motivará um Bum bum pachigundum prugurundum (alguém lembra?), e pronto. A cuíca poderá gemer, caso uns poucos decidam entender qual foi a mágica. No caso, é bem fácil, o nosso mágico Ministro mestre-sala, em nome da transparência, descreve qual o truque enquanto o executa. Quem achar ruim que saia do Sambódromo; ame-o ou deixe-o. Acho que aqui fui mal. O carro alegórico do “Nuncantesnahistória” desfila majestosamente. Faltam menos de dois anos para o término do desfile, mas poucos parecem seriamente preocupados com a possibilidade do rebaixamento, a não ser que (só agora) mandar acelerar o passo leve (finalmente) a algum resultado. Comparável ao de Xerxes mandando açoitar o Mar Egeu? Serpentinas inflacionárias ficarão a cargo dos ilusionistas – nada de congelamento, adiar reajuste de transporte coletivo não é a mesma coisa e segurar o reajuste de combustíveis até a Petrobras ficar roxinha faz parte de uma estratégia inacessível a cabrochas reacionárias e golpistas. O Pibão virou confete a ser atirado na avenida. A comissão de frente, ou seria na frente, nunca passará de 10%. E, ao som do: Mamãe, desejo ser aleitado, nossos heróis prosseguirão na marcha em busca da santa chupeta. Os passistas sabem que tudo passa, tudo passará, mas até lá é maior locupletar-se. Mirem-se no exemplo daqueles gajos de Atenas!
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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