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COLUNISTA
Rui Grilo
24/11/2012 - 08h00
Por que Esmeralda?
 
 

Quando começamos a discutir o Encontro COSTURANDO A REDE, que acontecerá dia 03/12 no Centro do Professorado de Ubatuba, logo pensei na Esmeralda. Por quê?

Primeiro, porque em seu relato ela estabelece a relação entre o consumo de drogas e a violência familiar. No seu livro ESMERALDA - PORQUE NÃO DANCEI ela afirma que não foi a pobreza que a levou a viver na rua e a consumir drogas mas a violência insuportável no interior de sua própria família.

Segundo, porque ela enfatiza a importância do ato de escrever como um elemento importante para o seu processo de reconstrução e de afastamento das drogas. Acompanhando o seu texto vamos percebendo a dificuldade de começar um texto, o medo de se expor, a necessidade de relembrar e ordenar os fatos e, ao ordenar palavra por palavra, uma após a outra, ir percebendo as relações de causa e efeito, o que dificultava seu bem viver e as oportunidades que surgiam e que dependiam de sua opção para aproveitá-las. Nesse exercício vai relembrando as pessoas que a impediam de viver a vida como possibilidade positiva para percebê-la como tragédia. Também vai lembrando daquelas que, mesmo chutando seu traseiro, empurravam-na para a frente.

O seu texto vai nos mostrando o valor da redação como um importante instrumento para a percepção de si, do outro e do mundo. E como a construção desse conhecimento lhe dá forças e novas perspectivas de vida.

Ao relembrar das pessoas e das mais diferentes instituições vamos percebendo a importância da amizade, dos laços afetivos e o papel da arte na construção do conhecimento e da personalidade.

Portanto, leva-nos a perceber o importante papel da escola e dos educadores no sentido de ajudar o adolescente a refletir e sistematizar suas experiências, dificuldades e possibilidades.

No trabalho com o adolescente, cada instituição pode não dar conta da dificuldade assim como a linha pode não suportar o peso do peixe. É o nó entre as linhas que constrói a rede e que permite reter peixes maiores e em maior quantidade. Às vezes ela é arrebentada pelo peso e o pescador perde muitos peixes. É necessário fechar os buracos. Assim, no trabalho com o adolescente é preciso formarmos uma rede onde todos se conheçam e se reconheçam percebendo os recursos com os quais poderão contar, eliminando os “ buracos”, garantindo um melhor atendimento.


Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
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