O Projeto Ação Proteção, uma parceria entre a Fundação Vivo e a Prefeitura Municipal de Ubatuba, pretende articular, sensibilizar e capacitar atores do Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes - SGDCA - com o objetivo de propiciar e fortalecer ações para o enfrentamento da violência sexual. Entre os vários temas abordados no curso de formação à distância era a questão do uso da internet e da possibilidade do uso desse meio por pedófilos e por pessoas interessadas na exploração sexual e no tráfico de pessoas. Além desse problema, que geralmente envolve o abuso de adultos, o próprio adolescente pode criar situações que favoreçam a violação de sua intimidade pois é cada vez mais freqüente a exposição de fotos e da intimidade entre adolescentes, sem avaliar os riscos que essa atitude pode trazer. Nesta semana, vi um filme (*) no qual uma adolescente se suicida depois de ser expulsa do time da escola. O motivo da expulsão é o fato das fotos postadas por ela mesma para o namorado, terem circulado pela internet, dando margem para que seja vista como “vadia” ou “galinha”. Essa situação me fez lembrar e ampliar a compreensão do que tinha visto no curso. À medida que a trama avança, vamos percebendo o jogo de atração e repulsão, a necessidade de aceitação, a discussão da ética das atitudes e a vulnerabilidade afetiva e moral, tanto de adultos quanto de adolescentes. A adolescente que se suicida era a principal atleta do time e invejada por outra aluna que a percebia como uma barreira para o seu próprio brilho. Sabia que se a técnica do time visse as fotos, afastaria sua rival. Para isso usa a melhor amiga da suicida para enviar a foto à técnica. Aproveitando-se da necessidade que esta amiga tinha de ser aceita no grupo, instiga-a a mandar a foto à técnica do time, ameaçando-a com a possibilidade de passar pela mesma situação de bullying que sua amiga estava sofrendo. Com a expulsão do time, a jogadora também perderá sua bolsa de estudos. A dor é maior por se sentir traída pelo namorado e pela melhor amiga. Essa situação leva ao desfecho da tragédia. Inconformada, sua mãe inicia uma investigação para saber quem tinha vazado a imagem pela internet. Enfrenta a insensibilidade da escola, preocupada em manter sua própria imagem e em abafar a realidade que acontecia no seu interior. Nesse processo, a adolescente beneficiada com a expulsão da outra, descobre que quem distribuiu a imagem na internet foi sua própria mãe pois percebia a outra como uma barreira ao sucesso da própria filha. Esse final mostra o quanto o destino dos filhos está vinculado aos valores da própria família. Para que a filha brilhe, não importa se será à custa da desgraça da filha da outra. Muitas vezes os adolescentes pagam por serem manipulados por adultos ou por não pensarem nas conseqüências de seus atos. Pagam caro pela necessidade de serem aceitos no grupo. No século XX, o cinema passou a ser um extraordinário meio, como um grande espelho, onde vemos a imagem da humanidade, seus problemas, conflitos, suas causas e possibilidade de superação. Por exigir um período mais longo de concentração favorece a reflexão e a mudança de atitudes. (*) não deu para identificar o filme porque a informação veiculada pelo canal de TV não bate com o filme apresentado. Refere-se a outro filme.
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
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