Conversa (des)afinada
Ao que tudo indica, em 2012, o crescimento de nossa economia tenderá para o nível classificado, há bem pouco tempo, como ‘piada’ pelo ministro da Fazenda e como reflexo da visão pessimista e negativa dos europeus, pelo ministro do Desenvolvimento. Vale notar as tentativas para fazer a economia “pegar no tranco”, alternadas com as aulas de condução da política econômica, graciosamente ministradas pelos nossos dirigentes aos recalcitrantes líderes europeus e norte-americanos pouco dispostos a abeberarem-se nessas fontes de sabedoria. O professor R. Werneck listou algumas dessas iniciativas no seu artigo. (B2 28/9). Não se colocam em dúvida as boas intenções, apenas é o caso de se discutir a aleatoriedade das medidas. Não custa lembrar alguns episódios. No passado, Lula tentou convencer a Vale a se dedicar à fabricação de produtos siderúrgicos, isso num mercado que já dava mostras de saturação, com capacidade ociosa etc. É conhecido o preço pago pela (salutar) desobediência. É visível a “mão invisível” que ao proibir os reajustes de combustíveis, em prol da nobre causa do combate à inflação, prejudicou a Petrobras. Não adianta dizer que a principal causa do recente prejuízo trimestral foi a variação cambial por duas razões. A primeira é que essa variação cambial adversa e resultado da flutuação “em qualquer direção da nossa moeda, desde que seja para cima”. A segunda é que o impacto produzido pelo câmbio não afeta de imediato o caixa da empresa, ao passo que o “controle” dos preços impacta diretamente a capacidade de investir. O resultado disso foi sumarizado pela presidente Graça Foster, quando afirmou que as cotações das ações da estatal estão deprimidas. Deprimidos também devem estar os investidores. Todos queremos uma Petrobras forte, mas com seus investimentos garroteados por uma bem intencionada imposição quanto ao conteúdo nacional - que faz lembrar a famigerada Lei da Informática, de triste memória -, as dificuldades são óbvias. Ao invés de arbitrar 65%, uma transição suave em direção à meta seria preferível. Vale lembrar que na megacapitalização da Petrobras a participação do governo se deu em barris de petróleo, o que encorpa os ativos da empresa, mas não ‘vitaminam’ sua capacidade de investir. Pelo que se sabe, pagar vale-refeição. As modificações nas regras do jogo no setor das elétricas, exageradamente rotuladas como sendo “um rasgar de contrato”, sem chegar a esse extremo não são exatamente um encorajamento aos investidores. Por fim, a meritória iniciativa de segurar/reduzir tarifas bancárias do BB, ao mesmo tempo em que o governo injeta insignificantes R$ 8,1 bi na instituição financeira, a exemplo do que faz na Caixa e no BNDES, deixam evidente uma lógica, no mínimo discutível, ao misturar contas do Tesouro com as das instituições mencionadas. A impressão que se tem é que os bancos oficiais lideram uma corrida na qual levam a vantagem de participar com o soro diretamente na veia.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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