Palavreado vazio e abundante; loquacidade, verborreia
O político francês Jean-Pierre Chevènement um dos fundadores do Partido Socialista ao preconizar a disciplina dentro de um governo, tornou-se famoso por proferir essa obviedade: "Un ministre ça ferme sa gueule, si ça veut l’ouvrir, ça démissionne" - Um ministro cala o bico e se quiser abri-lo, que demissione. Naturalmente, estava se referindo a eventuais discursos discordantes da política do governo de plantão, integrado pelo ministro verborragicamente discordante. Obviamente, ele não incluiu na categoria do "Por que não te calas", ministros loquazes como Edison Lobão e Guido Mantega. O Excelentíssimo Ministro da Fazenda deve possuir um credo dúplice. Por um lado acredita que seus discursos tem o poder das profecias auto-realizáveis. Ao proferir prognósticos róseos, despertaria otimismo na população e o famoso "espírito animal" dos empresários abandonaria os zoológicos e viria habitar entre nós. Por outro lado, acredita que trata com uma população desprovida de memória, incapaz de se lembrar dos números (otimistas), que infelizmente não resistem ao choque da realidade; sua especialidade são as projeções irreais do crescimento do nosso PIB, apimentadas de "APOSTAS" - sempre perdidas. Não vale a pena recapitulá-las. Talvez fosse o caso de citar apenas uma. Enquanto projetava um crescimento do PIB da ordem de 3-4% trombou com uma projeção de analistas de um banco que limitavam esse crescimento a 1,5%. Tratou aquilo como uma "piada". No momento, a última projeção de Sua Excelência parece convergir para a "piada". A incontinência verbal vai mais longe. No Estadão de 16/9 (B1), ele vai além das atas herméticas do BC e declara que não será necessário o BC elevar os juros no ano que vem. Isso até poderá acontecer, mas talvez fosse mais adequado ler isso nas entrelinhas das tais atas. Se não, para quê ter BC? Na entrevista ao Jornal (B3), ele resolve colocar um "fato relevante" afirmando que a Petrobras terá lucro este ano, que será de dezenas de milhões de reais. Dependendo do número de dezenas - um resultado pífio, pelo jeito, não bastou a declaração da presidenta da Petrobras. Na sua investida contra os juros altos dos cartões de crédito, ele se manifesta no mais puro estilo Kirchnerista. "Se nós estamos preocupados, é bom que os bancos também se preocupem. Temos agido dentro da lei. Desde 2003 não violamos nenhum contrato". Estaria Sua Excelência cansada dessa prática do respeito ao tal "pacta sunt servanda"? Sem contar que esses juros altos são suportados, em geral, por aqueles que - empurrados pela pressão por aumento do crédito - não encontram mais nenhuma alternativa para financiar suas dívidas. Os juros são realmente terríveis, mas qual é a proporção das "vítimas"? Com referência à extensão da desoneração da folha, sua Excelência acerta quando diz que haverá um efeito benéfico sobre a inflação, no entanto parece se esquecer do aumento do buraco da Previdência, que será coberto pelo Tesouro. O Tesouro não é uma entidade abstrata, situada em Marte; para cobrir o tal buraco terá de emitir dívida ou moeda. Se o custo da bondade for superior aos R$ 15 bi do orçamento, haverá um problema. A outra bondade - a da depreciação acelerada será um verdadeiro benefício, salvo para as empresas que operam no vermelho. Finalmente, adverte "o mundo" que tome cuidado, pois aqui o dólar flutuará no sentido determinado pelo "nosso time". O custo desse heroísmo não entra na conta. É difícil, numa conjuntura tensa, deixar de se pronunciar, mas, ministro, fique na simples adjetivação. Pode ser vago, mas faz bem à reputação.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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