Conversa (des)afinada
A foto reunindo a “troica” Lula, Haddad e Maluf parece ter ferido a retina da deputada Erundina. Mesmo tendo suportado com bravura o pragmatismo da aliança bizarra, da qual tinha pleno conhecimento, diga-se de passagem, o “oxímoro pictórico” a fez reatar com sua biografia e ela desistiu de compor a chapa com o candidato do PT. No caso, uma foto valeu por toda a energia gasta para convencê-la a tentar ser vice. O pragmatismo “corrente de ideias que prega que a validade de uma doutrina é determinada pelo seu bom êxito prático”, de acordo com o dicionário Houaiss, não vem do último fim de semana. Para ascender ao trono da França, Henrique IV, ao se converter ao catolicismo, se notabilizou pela frase: “Paris vaut bien une messe” - Paris vale uma missa. Erundina não é Henrique IV e São Paulo não é Paris, verdades das quais já era possível desconfiar. Sem contar que há um certo exagero ao se falar no PP DO Paulo Maluf ou do PR DO Valdemar Costa Neto, apesar da geléia geral ideológica que norteia nossos partidos políticos e serve para retratar papel dos seus líderes. Erundina não perdeu a tramontana, mesmo porque, no mínimo, continuará valendo, pelo menos, um voto. Mesmo com a notável descoberta de que “Lula passou dos limites” (oh, céus!), nada muda de forma dramática nesse palco que ainda não foi armado. O episódio serviu para dar um pouco de exposição ao candidato Haddad, além do 1 min e 35 segundos em nome dos quais a coerência foi encaminhada às urtigas.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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