Ao sair da estação de Viana do Castelo, em Portugal, há uma avenida que termina na margem do Rio Lima, onde se destaca uma escultura de ferro em formato de porta sob a qual há uma corrente arrebentada simbolizando o fim da ditadura salazarista. O monumento é uma homenagem a todos aqueles que sofreram torturas e lutaram pelo seu fim. Neste momento ouvimos o ecoar de bumbos e nos dirigimos para a direção de onde vinha o som. Chegamos a uma praça e descobrimos que era uma comemoração da Revolução dos Cravos. Perguntei a um senhor que portava um cravo vermelho na lapela a razão do nome e ele me informou que, quando os tanques e os militares saiam às ruas para iniciar a revolução, uma vendedora de flores estava com um maço de cravos vermelhos e começou a colocá-los no cano dos fuzis e essa imagem correu o mundo. Não houve um tiro ou uma morte. O ressoar dos bumbos dos Bombos dos Rapazes de Viana eram tão intensos e tão cheios de vida que sentia a vibração no coração. Foi uma cerimônia tão emocionante que meus olhos lacrimejaram. Em seguida houve a apresentação de grupos folclóricos e de cantores. Entre os números apresentados pelo grupo da Freguesia de Anha achei interessante o “Vamos ao Mar” que conta a história das mulheres que trabalhavam retirando o sargaço do mar para fertilizar o solo. Pensei no quanto o folclore e a cultura são fatores importantes para a identidade de um povo e do indivíduo e o quanto é importante como um recurso para o fortalecimento do turismo e da economia. Enquanto apreciávamos o espetáculo aproveitamos para saborear uns bolinhos de bacalhau nas mesas espalhadas pelo restaurante na praça.
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
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