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COLUNISTA
Alexandru Solomon
11/04/2012 - 05h38
Complexo de cidade sitiada
 
 
Conversa (des)afinada

Perdoamos às pessoas não compartilhar as nossas opiniões. Só não lhes perdoamos ter as suas. - Sacha Guitry

O povo unido jamais será vencido. - Frase ‘curinga’

Nada consegue estimular mais uma coletividade do que uma ameaça, real ou imaginária, a todos os seus membros. Diante do perigo, cerram-se fileiras, jorram palavras de ordem e, com bandeiras, ideológicas ou não, marcha-se rumo ao triunfo, que passa necessariamente pela aniquilação das causas do anúncio de infelicidades futuras.

De Tróia a Leningrado, passando por Carcassonne, a resistência foi a tônica.

Vez por outra inexiste a ameaça do aniquilamento. Investimos contra moinhos de vento, mas isso faz parte do jogo. É só escolher com cuidado os moinhos. Nesses momentos intervém a habilidade dos manipuladores de opinião. Criam-se perigo fictícios, inimigos imaginários, ameaças fantasiosas. Alguns exemplos?

Tomemos o caso do Sr. Jerôme Valcke que ante uma situação concreta, emitiu uma frase desastrada, insolente, nada diplomática. O famoso "coup de pied aux fesses", cujo impacto, na língua de Voltaire é bem menos agressivo do que traduzido ao pé da letra em Português.

Pronto. A honra nacional foi vilipendiada. Ultrajados, deputados, senadores, ministros rejeitaram com indignação a irreparável ofensa proferida pelo ’vagabundo’. (Marco A. Garcia dixit). Pouco importa o que a motivou, o real e (quase) irreparável atraso das obras da Copa. Não contentes de chamar de vagabundo, há uma total rejeição a uma figurinha com poder de transferir a Copa para outro país. Ele não passa de um sub do sub - frase imortal de autoria do Nosso Guia ao se referir a Robert Zoellick. Outros, sem conseguir emplacar o Dia do Saci, desenvolveram interessantes teorias sobre a eficácia do nosso jeitinho, motivo de ufanismo idiota e pretexto para tranquilizar espíritos mais inquietos. Situação e oposição, juntas, estão determinadas a resistir. Resistir a quê? À realidade?

Consideremos agora a tese da desindustrialização. É bem provável que haja fundamentos para afirmar que este fenômeno ocorre, embora a participação do setor industrial esteja encolhendo também em outras economias mais desenvolvidas. Há várias causas, entre outras - e não se trata das menos importantes - a ineficiência geral devida ao custo Brasil, às deseconomias decorrentes de uma carga tributária caótica, à guerra fiscal etc. Admitir isso seria de uma rara falta de habilidade. Será preciso estimular o espírito animal do empresariado, que se compraz no espírito vegetal, parasitando, desde priscas eras, favores governamentais.

É tão mais cômodo, mais oportuno, mais prático, enfim, encontrar inimigos (sempre maldosos) prontos a devorar nossos frágeis 8 milhões e tantos quilômetros quadrados.

O mundo desencadeou uma guerra de moedas, as economias desenvolvidas prepararam um ’tsunami monetário’ com o único objetivo de colocar-nos de joelhos. Mas isso não acontecerá! Vamos ensinar-lhes os princípios básicos da Economia, vamos defender (debilitando) nossa moeda! Obviamente, não seremos o rabo a agitar o cachorro, mas para uso interno, estamos reagindo. E tome medidas retiradas do grande arsenal que o ministro Mantega diz possuir. Por enquanto a quantidade de medidas servirá à Receita Federal aumentar as autuações, pois a adaptação das contabilidades das empresas não será um passeio às margens do Sena. Bergson dizia que o ser humano é o único capaz de rir... do ser humano. Tá certo.

Identificamos mais um inimigo. O spread bancário. Circulam, na internet, que está sempre certa, casos como o de um indivíduo que aplicou R$ 1000 na caderneta e tomou um empréstimo de R$ 1000 no cartão de crédito. (Por que teria feito tal tolice?) Dez anos mais tarde o endividado deve o PIB do Haiti e sua poupança mal conseguiu agregar um zero à esquerda (antes da vírgula). O que fazer?

Já que a demanda interna está patinando, vamos estimulá-la. Vamos ignorar o endividamento atual (recorde) das famílias e vamos aumentá-lo (depois a gente vê) e vamos baixar os juros. Como? Ora, o BB e a Caixa diminuirão seus juros e os outros seguirão. Pode ser que os acionistas minoritários do BB não gostem da perspectiva de conviver com uma nova operação de embelezamento do balanço via recursos do Tesouro - aquele meu, teu, nosso dinheiro (acionistas ou não do BB) mas está desfraldada a bandeira. O Sr. Paulo Caffarelli já disse que os acionistas se assustam num primeiro momento, mas acabam gostando. Nada de mencionar o detalhe de ser o governo o maior sócio de todos os bancos, via a pletora de impostos que recolhe. Não existe inadimplência, não existe compulsório e essa expressão ’cunha fiscal’ é uma metáfora que não se aplica. Vamos às compras baratas. Com o IPI zerado estou pensando em comprar umas três geladeiras e vitaminar a demanda.

O petróleo é nosso. Resta decidir se é melhor ficar lá nas profundezas ou virar vil metal. Sob pena de levar o rótulo de privatista, vamos deixar tudo com uma operadora, a Petrobras, que os entreguistas cogitaram um dia de chamar PetrobraX. (X só nas empresas de Eike Batista) Se faltarem recursos? Bobagem, o Tesouro se endivida, repassa ao BNDES, e este financia a juros camaradas. O custo da operação não importa, se é para o bem de todos e a felicidade geral da nação.

Aliás, o BNDES parece dotado de recursos infinitos, estando acoplado à máquina de produzir títulos da dívida, naquela famosa operação cujo resultado ninguém sabe qual será. Há recursos para os grandes - os pequenos mal conseguem ter recursos para produzir, ou encomendar e pagar, um estudo de viabilidade nos moldes exigidos pelo BNDES. O pessoal de CUBA deve ter feito um belo estudo de viabilidade para seu porto de Mariel. Isso é geopolítica, entende, gafanhoto? Sozinho o BNDES ‘injetou’, bendita seringa, quase 300 bilhões de reais.

Mais forte que o BNDES é o nosso Fundo Soberano - ai de quem disser que se tratou do adiamento do pagamento de uma dívida. O FSB entrará na luta (ao primeiro sinal da Fazenda) e comprará dólares. Não perguntem com que dinheiro, já que quase todos os recursos estão imobilizados em ações Petrobras e BB (a mais recente cirurgia plástica). Se preciso for, o Tesouro financia o FSB e o BC não precisará comprar tanto. Coisas de bolso esquerdo e direito.

Tudo isso para dizer que enfrentamos os poderosos. Mas será que esses poderosos eram ou são tão hostis?

"Lula enfrentou os poderosos". Momentinho, depois de eleito e reeleito havia alguém mais poderoso no Brasil?


Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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