Conversa (des)afinada
Um frisson (mais um) percorre a espinha dorsal da Nação. Será o ministro Fernando Pimentel culpado da vilania que vozes açodadas lhe imputam primeiro em surdina, e já em inconveniente crescendo? Estariam com razão aqueles que encontrarem semelhança com a famosa ária de Don Basilio: La calunnia è um venticello? Ou, deixando Rossini de lado, teria o atual ministro recebido uma remuneração por trabalhos sem ao menos (em dois casos) haver contratos que formalizassem termos e condições da prestação de serviços, substituídos pelo tradicional fio de bigode? A FIEMG utilizou efetivamente esses trabalhos de que seus associados precisavam? Dramatizando, seria ele o próximo ministro a cair? Por enquanto, Sua Excelência não pode ser acusado sem haver provas. Mas no caso presente, como no clássico exemplo da mulher de Cesar, é preciso além de ser honesto, parecer sê-lo. Caso o ministro FP tenha prestado realmente consultoria, nada mais fácil de comprovar - lembrando que recolher IR sobre dinheiro recebido não significa ter sido a renda tributada resultado do trabalho de consultor solitário. Bastará mostrar os belos volumes encadernados nos quais Sua Excelência destilou sua perícia, no período de ‘quarentena’ em que a excelência limitava-se à qualidade do trabalho intelectual, colocado em dúvida por integrantes do detestável PIG. Na ausência desses vistosos cadernos, bastaria um (ou mais) pen drive. Palimpsestos poderiam ser aceitos, afinal, vale sempre a ‘última forma’. Caso os trabalhos sejam confidenciais, por exemplo, um plano de contingência na hipótese de um tsunami em Minas, indique-se uma pessoa isenta - parece que ainda existem dois ou três exemplares em vida -, ou uma comissão com algum preparo para dizer à Pátria aflita: Os trabalhos existem e fazem sentido. Não será necessário responder à pergunta: Valeram o dinheiro gasto? Será desnecessário porque não existe uma tabela de custos de exprefeitofuturoministro/hora. Quem assistiu O belo Antonio, haverá de se lembrar da cena do lençol nupcial. Caso os trabalhos estejam no padrão - Nos trechos com neblina, use farol alto - com um pouco de cara dura, será possível dizer: Pagaram porque quiseram. Ninguém os obrigou. Se não surgir algo ‘muito ruim’, tudo indica que o Sr. Ministro estará mais tranqüilo que a superfície do lago Baikal, em pleno inverno. É isso aí.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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