Sempre levava meus alunos para conhecer Paranapiacaba, uma vila na Serra do Mar, tombada pelo patrimônio histórico como um registro da forte influência dos ingleses na construção das ferrovias e no estilo arquitetônico. No centro da vila está o Castelinho, local de onde o engenheiro chefe fiscalizava os trabalhadores com um binóculo. Para enganar o chefe, os trabalhadores faziam movimentos fingindo que trabalhavam. Daí a expressão “para inglês ver”. Essa foi a explicação que um dos guias da vila me deu. Aqui em Ubatuba, a realização das conferências e instalação de conselhos são para “inglês ver” e não para gerar resultados. Essa foi a conclusão que cheguei ao participar da Conferência Regional de Saúde em Guaratinguetá. Verifiquei que os delegados de São Sebastião tinham nas mãos a relação das propostas votadas na etapa municipal e assim tinham mais condições de defendê-las na etapa regional. Depois de um certo tempo, é difícil lembrar todas as propostas e, no calor das discussões, mais difícil ainda é anotar a redação de todas. Para isso existe a comissão de redação e sistematização e, como grande parte dos delegados tem e-mail, o resultado poderia facilmente ser socializado para todos os participantes mas isso não foi feito. Por isso, na Conferência de Assistência Social apresentei a proposta de imediata socialização dos resultados das conferências. Foi votada e aprovada mas não concretizada. O objetivo das conferências é gerar consensos ou estabelecimento de prioridades que se transformem em leis e ações de políticas públicas. Mas para que isso se torne fato é necessário o conhecimento, daí a necessidade de divulgação para que haja a vigilância, a insistência e a cobrança por parte dos cidadãos. Sem um documento que lembre as decisões tomadas, podem cair no esquecimento. Além disso, cada delegado representa um grande número de pessoas que não participaram e às quais tem o dever de informar. Sem a devida e ampla divulgação dos resultados, em vez de um instrumento de organização de políticas públicas conseqüentes, as conferências se transformam em ritos para inglês ver.
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
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