Conversa (des)afinada
O ministro Guido Mantega prometeu surpresas mensais na área fiscal. Só não especificou qual o tipo de surpresas. Uma idéia brilhante, que somente a poucos poderia ocorrer, com boa probabilidade de se concretizar, partiu da constatação que, em 2011, por méritos ou excessos de arrecadação, conseguiremos ultrapassar a meta do superávit primário dito cheio. A surpresa é a seguinte. Ao invés de tentar conseguir, ou nos aproximar de um superávit nominal, abatendo a dívida, Sua Excelência fala, e não é uma voz solitária, em vitaminar o FSB – nosso fundo soberano sui generis. Esse fundo que em tese deveria ter na sua composição títulos de risco mínimo – mesmo se rendessem apenas ‘merrequinha’, na avaliação perspicaz do nosso ex-presidente – está entupido de ações da Petrobras e do Banco do Brasil, cujos aumentos de capital contaram com sua ampla e generosa participação. Foi uma operação, até agora, macro-imprudencial. Com a queda da Bolsa, o FSB perdeu algo como 5 bilhões dos seus 19,7 iniciais. É claro que essas perdas estão, no momento, no papel, já que só a venda dos títulos tornaria o prejuízo uma realidade, mas com a ‘mania’ dos contadores de taxar a mercado, não há, no momento, motivo de ufanismo. Sua Excelência deseja fazer preço médio, aproveitando as cotações deprimidas? Sua Excelência virou especulador? Não seria preferível reduzir o estoque da nossa dívida? Essa, sim seria uma boa surpresa!
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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