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COLUNISTA
Alexandru Solomon
17/06/2011 - 17h05
Cesare Battisti longe do Rubicão
 
 
Conversa (des)afinada

Depois disso, o Delúbio!

In idem flumen bis non descendimos - Heráclito

O STF manifestou-se e proporcionou amparo jurídico a uma sábia decisão do NOSSOEXPRESIDENTE. Exequatur – execute-se. Quanta ironia! O brocardo: Roma locuta, causa finita, – Roma se pronunciou, a causa está encerrada – encontrou um retumbante desmentido. Deixem Roma resmungar em Haia se quiser! Nosso cocorocó soberano ecoou mundo afora. Claro que não poderíamos devolver Cesare Battisti ao seu país, onde sofreria perseguição. O então ministro da Justiça, Tarso Genro, foi o primeiro a indicar o caminho correto. Aquela república de spaghetti não possui uma justiça confiável! Há pessoas ingênuas, desconhecedoras da falta de democracia na ‘bota’ que pleiteiam a cidadania italiana. O quê? Uma ex-primeira-lady o fez? E daí? Fê-lo porque o quis, mas ela não foi para lá. Queriam que o Battisti fosse para a terra da Cacciolada? Desse papo de delitos e de penas até a beca ria – o trocadilho é fraco, mas serve.

Dai a Cesare o que é do Cesare – uma oportunidade para se tornar graduado assessor de algum grande companheiro. Há precedentes que podem ser pescados. Por falar em companheiro, quem pagou os honorários do advogado do Cesare? Os honorários saíram da conta povo brasileiro e/ou? A hipótese de ele vir a pleitear indenização por danos morais decorrentes do seu longo e cruel albergamento não deve ser descartada.

Quantos filmes americanos assistimos, nos quais os bandidos sonhavam refugiar-se no Brasil? N (ene)! Isso vem de longe. Sem contar que o Brasil extradita os verdadeiros bandidos, como o mostrou soberanamente com os pugilistas cubanos – reputados pela sua violência. O tal Guillermo Rigondeaux deve ter deixado ensanguentados vários oponentes. Aquele indivíduo violento tinha de ser devolvido ao paraíso de Cuba, junto com seu coleguinha menos famoso (Erislandy Lara), mas igualmente perigoso. Cesare publicará por aqui seus livros – desde já best sellers –, tranquilamente, não como o Carryl Chesmann, no corredor da morte. Percebem?

Outro pretexto para deixá-los macambúzios é a operação de nome sânscrito, Satiagraha. Ora, se o termômetro que acusava febre foi roubado, o paciente está hígido. Simples assim. Todo o trabalho do hoje deputado Grampôgenes desperdiçado. Certo? O prêmio Jabuti será pouco!

O decurso de prazo de parte do processo do mensalão – que não existiu, a não ser para algumas mentes mal-intencionadas –, é um fenômeno natural. Não podemos ter processos eternos. Em compensação pode ser que tenhamos sigilos eternos. Eternos enquanto durem, diria o Poetinha. A solicitação partiu de quem sabe solicitar. E como! Para os quarenta, o novo sentido do PAC (Paz Aos Corruptos/corruptores).

E quanto ao superfaturamento da Telebrás, ele foi constatado pelo TCU; muito ruído por causa de uma bagatela de 120 milhões de reais. Se ao menos fossem dólares! Queriam o quê? Uma vez apurado, os preços serão corrigidos. Pronto. Tudo certo como 16-5=7. Não sejam rancorosos. Pedir punição? Isso caiu em desuso total.

O caso Abdelmassih os irrita? Só porque ele se escafedeu? A carne – todos sabem – é fraca e quando deixa de ser... e o camarada resolve divulgar o fenômeno pela Internet, dá confusão. Onde? Na Bushlândia. Perguntem ao quase candidato à sucessão de Bloomberg. Puro fanatismo exigir que o bom doutor ficasse algemado como fizeram naquela republiqueta do Big Mac com o DSK? Francamente!

Há quem implique com outro médico, um sanitarista. Esses receberam um cala-boca vindo de Procuradoria Geral. Variação patrimonial incompatível com a renda não tipifica crime. Lembrem-se disso ao acertar as contas com o Leão! Se o Leão fizer perguntas inconvenientes, bastará alegar invulneráveis cláusulas de confidencialidade. Para impressionar, usem o termo NDA (non disclosure agreement). Pega bem! E não adianta falar mal do homem forte depois de defenestrado. Leonem mortuum etiam catuli morsicant – Até os cãezinhos mordem o leão morto.

Para aqueles que torcem o nariz para o overlapping ministerial que deslocou um “garçom” para o ministério da Repescagem trazendo para a pasta da Lubrificação a ex-Ternurinha do Senado, recordemos que o overlapping já nos fez campeões morais... de futebol, é verdade, mas do futebol nascem as mais poderosas metáforas políticas. Ou não? Deixem o menino pegar os peixe por lá. Tampouco vamos nos preocupar com o assento ejetável da Casa Civil. Por vezes, não ejeta para o espaço sideral. O importante é ter um novo casal vinte, mesmo sem Robert Wagner e Stefanie Powers.

No plano externo, desempenharemos com habilidade o papel de irmão bobão, distribuindo caridade aos irmãos desvalidos. Normal. E se o senhor dos gases bolivianos achar que veículo roubado pode ter sua documentação esquentada, para que o sonho do mi coche, mi vida se torne realidade, e de brinde melhore as contas do país-irmão, é melhor não resmungar. A título de colaboração poderíamos introduzir um IPVA-doB, para financiar essas compras. Nem os ladrões de carro reclamariam. Vamos vitaminar o impostômetro! Vamos desafogar o BNDES que já tem muito o que financiar nessas democracias autênticas!

Alguns ficam se iludindo com filosofia barata. Tudo flui. Não te banharás duas vezes no mesmo rio, proclamava Heráclito de Éfeso – segundo dizem, após divagação contemplativa nas margens do Tietê. Nem tudo flui, mesmo se a água passar o rio será o mesmo, tanto é que há anos nadamos na mesma poça.


Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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