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COLUNISTA
Alexandru Solomon
15/05/2011 - 17h11
Desenvolvimento adiado
 
 
Conversa (des)afinada

Uma oportunidade adiada de fazer um questionamento profundo

Eleitor de José Serra, confesso que ao ver o título do artigo “Desenvolvimento adiado”, no Estadão (12/5 A2), exclamei como todo bom “entreguista”: YESS! Finalmente, o homem saiu da toca para produzir um texto definitivo. À medida que avancei na leitura, confesso – parece que é hora das confissões – que senti um desapontamento progressivo. Ao invés de um tiro de canhão, Serra se valeu de um rudimentar estilingue. A bandeira da resistência a “tudo que está aí” foi substituída por um vulgar lencinho de fabricação chinesa, adquirido numa liquidação da rua 25 de março.

Possivelmente, essa decepção seja apenas um o reflexo de frustrações contínuas nas expectativas de ver o candidato Serra destroçar a candidata Dilma durante os debates, nos quais demonstraria – e não demonstrou – como uma divisão Panzer, a inutilidade de uma linha Maginot da oratória petista.

Receio que o efeito desse artigo, na minha revoltada opinião, sobre os 40 e tantos milhões que nele votaram possa ter sido: Xii, será que erramos? E sobre os 50 e tantos da adversária: Pelo jeito, acertamos! Receio infundado. Poucos lerão – a maioria entre os tais 16-20%, (quem sabe 25% agora?), talvez o faça.

Depois de um primeiro parágrafo promissor – ainda que sem grande impacto sobre o “povão” (conceito FHC) o artigo inicia sua derrapagem.

“Nas últimas décadas o Brasil parece ter congelado sua vocação para o desenvolvimento rápido, a indústria e a agregação de conhecimento e valor. Pior ainda, contrariando toda a retórica oficial, desestimula-se a necessidade desse desenvolvimento, como se um país com nossa população e nossas desigualdades sociais pudesse encontrar seu rumo abrindo mão do dinamismo e da oferta de boas oportunidades a todos, especialmente aos mais jovens”. Perfeito, a menos de um detalhe: Estamos fazendo oposição ao governo do PT ou às últimas décadas (que incluem a “octaetéride fernandista” – como gosta de dizer o professor Delfim?).

“Uma das piores heranças do governo Lula não foi apenas a inflação em alta, mas o fato de a megavalorização da taxa de câmbio do real em relação às moedas estrangeiras passar a ser a âncora anti-inflacionária exclusiva. Com isso se castiga cruelmente o setor produtivo da nossa economia”...

No meu curso de engenharia, na cadeira de cálculo – que saudades de MAT-10 e do professor Lacaz! – o livro-texto de autoria do prof. Murnaghan possuía uma característica interessante. Quase todas as afirmações vinham seguidas de desafios (why, show this, prove that) por que, demonstre isso, prove! Todos sabem que há inflação em alta e valorização do real, falta apontar a(s) causa(s) e (ir)responsáveis “disso que está aí”, na opinião do doutor em economia.

Em nenhum momento, nesse trabalho aparece a palavra “corrupção”. Deveria. Uma menção feita a “denúncias de superfaturamento” e “conflitos com o TCU” não bastam. É preciso um pouco mais de “punch” – e não se trata de charutos cubanos, e sim, de impacto. Os ralos da corrupção, a exemplo do “mensalão” foram invenções dos “cansados”?

Que entre 1900 e 1980 o crescimento do PIB brasileiro foi um dos maiores do mundo, a Zelite sabe, essa informação não está no Twitter ou no Facebook e foi bom ter sido mencionada. Que os gargalos que nos estrangulam, impondo “custos pesados à atividade econômica” estiveram presentes nos últimos anos, forçando-nos a constatar que “poderíamos ter crescido mais e melhor, de forma sustentada” é fato.

Na hora de exemplificar, o autor patina. Aponta com precisão o alto custo de nossa energia para consumo industrial – a terceira mais cara do mundo – para, em seguida, se perder em detalhes que não chegam a comover, tal sua falta de foco.

“Em portos, o Brasil está na 123° posição entre 139 países”... Segundo qual critério? Pelas filas de caminhões aguardando sua vez no acostamento de estradas podres? Pela lerdeza dos embarques e desembarques? Pela tonelagem movimentada? Pela burrocracia? Como estava e porque ficou assim, a menos que tenhamos melhorado sem perceber? “Em performance logística o Banco Mundial coloca o Brasil na 41ª posição; nos procedimentos alfandegários, em 82º lugar.” Enfim, aparece um critério, algo vago, mas aí falta dizer se o rol comparativo inclui os mesmos 139, mais ou menos países. E falta espetar, cravar o punhal, lancetar o abscesso: Somos a oitava economia mundial, com prazo marcado para sermos a quinta, segundo o discurso oficial. É assim que vamos chegar lá? Ou apesar disso?

Perdido no meio desse ranking de ruindade, surge um dado contundente:

“O milho que sai do Rio Grande do Sul para o Recife paga frete mais elevado do que o milho que vem de Miami, cidade quase duas vezes mais distante.” Agora, sim, na mosca! Por que não se contentar com o gol marcado e falar que nos EUA os transportes representam 20% do custo da soja exportada para a Alemanha e no Brasil 30%? Para ouvir que as distâncias são diferentes?

“Após as eleições, o Ipea pôs o dedo na ferida: dois terços dos maiores aeroportos do País operam em estado crítico, com movimentação de passageiros/ano acima da capacidade nominal. Não se trata de apontar um eventual colapso que nos iria colher na Copa do Mundo de 2014. O problema já existe hoje.” Brilhante, mas será que ninguém sabia disso até os Pochman-boys apontarem a chaga?

Para ilustrar a falta de homogeneidade do texto, surgem dois parágrafos contundentes – ufa, até que enfim! Temos uma baixíssima taxa de investimento, 1,7% do PIB em 2007, só à frente (sic) e não atrás – como faz falta uma revisão! – do Turcomenistão. Essa taxa grotesca ocorreu num contexto de aumento espetacular da despesa orçamentária. Agora, sim! Dá-lhe, Serra! Falta planejamento e gestão, falta clareza sobre as prioridades e incapacidade de materializar salvadoras PPP. (parcerias-público-privadas, não Pagão Pelé e Pepe como poderia pensar um amador de metáforas futebolísticas – aquele que tirou milhões da miséria e deixou o resto às turras com uma herança que o atual governo não ousa criticar).

Depois de falar sobre “as poucas concessões federais de estradas” e da inexistência de concessões para a expansão dos aeroportos, o autor aumenta o tom quando cita a entrevista da ministra do Planejamento que confessa estar reaprendendo junto com todo mundo a fazer obras de infraestrutura – logo os oito anos de administração petista foram claramente insuficientes. Quem sabe agora? Diga isso! Com todos os effes e os erres!

Obviamente, o trem-bala é um pacote delirante. Com a desejável melhoria do sistema aeroportuário, ficará mais absurdo ainda, a não ser pelo desejo de aboletar gente amiga na tal Trembalabrás, ou seja lá qual for a estatal que se criaria no contexto da prometida austeridade. Quanto a imaginar que o Dr. Luciano Coutinho, querido colega da Unicamp, irá se opor, convém acordar. Se ele se opuser, dançará. Simples assim.

Criticar um artigo é fácil, expor a insatisfação com sua mansuetude, democrático.


Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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