Conversa (des)afinada
Roger Agnelli – que conheço pessoalmente, e muito me envergonho disso – possui dois graves defeitos. É competente e, pior, é dotado de coluna vertebral. Merece cair. Quanto antes, melhor. Melhor para quem? Ora para as hostes de cidadãos ´diferenciados` – supérfluo seria citá-los. Queremos uma Vale idiota, que, em nome de uma causa nobre, adquira navios no mercado nacional, pagando o dobro do preço praticado alhures. Se houver possibilidade de um superfaturamento (Zinho – o diminutivo cai como uma luva), melhor. Para quem? Ora, que pergunta desprovida de propósito! ValeRioDoce, uma vez lobotomizada, poderá tornar-se um ValerioDuto. Ou não? A exemplo da Petrobras, queremos uma Vale submissa a um poder onissapiente exercido por intelectuais do porte de um gigante do pensamento contábil , como ´nosso (quase-reabilitado) Delúbio`, ou até, se nos for permitido olhar para os cumes da sabedoria contemporânea (com óculos protetores, para que nossa visão não seja ofuscada pelo intenso brilho de sua aura), pelo esposo de Dona Marisa. (Bem que esse gênio insistiu para que a Vale exportasse trilhos. Em vão!) A Vale, cegada por ambições subalternas, divorciadas da óptica macro dos corifeus da sabedoria, pautou seu comportamento por normas obsoletas e mesquinhas que poderiam ser resumidas assim: Valorizar a empresa – critério superado e digno de estrepitosa vaia. É revoltante pensar que a preocupação da Vale tenha sido maximizar o valor para um bando de acionistas gananciosos. Ops, a Previ não é gananciosa, do alto do seu patrimônio de R$ 150 bi faz parte de uma estrutura lúcida. Ops, o BNDES, também não é ganancioso – arrumou, por acaso, em 2010, um lucrinho irrelevante de R$ 9,9 bi, com vergonha de alcançar o valor maldito de R$ 10 bi. Bem, há aqueles gananciosos inveterados, integrantes dos fundos oriundos do FGTS. Esses merecem exemplar castigo, a menos que arrependidos pela má escolha, torçam para que a competência seja defenestrada o quanto antes. Deixo de mencionar as hordas de minoritários, nacionais e estrangeiros, com o fito de abreviar a mensagem, certo de que estão prestes a fazer um mea culpa coletivo e engrossem o coro pela providencial mudança. A Vale teimou em se manter alheia à CAUSA! Até quando agüentaremos uma empresa eficiente e eficaz? Paciência tem limites. A nossa está prestes a se esgotar. Oportuno seria substituir toda a diretoria da empresa – contentar-nos-íamos apenas com o corte de uma cabeça, quando há tantas vagas passíveis de preenchimento por portadores da sagrada carteirinha petista? Em hipótese alguma. O destino luminoso da Vale passa por essa reformulação, da qual resultará, para gáudio de todos e desespero dos inimigos das finanças criativas, uma estrutura amorfa pronta para encontrar sua redenção através da política do ass-kissing, ou do puxa-saquismo irrefreado, para atender os xenófobos de plantão. Em boa hora veio a pressão do nosso hábil, ilustre e desenvolto ministro da Fazenda – cujos méritos precisam ser enaltecidos em prosa e verso – no sentido de afastar um dirigente nocivo aos interesses maiores da universalização da mediocridade. Com certeza age movido pelo antigo bordão: Homo homini Lobão. Esqueçamos – é imperioso – a ascensão da Vale no ranking das mineradoras. Se continuasse estatal, não há dúvida que estaria em melhor posição. Esqueçamos seus recordes de lucratividade que não passam de detalhe irrelevante. Oportuno seria omitir os dividendos que a Vale distribuiu. Evitemos sobretudo a afirmação mal intencionada de que superam o que a CVRD distribuiu desde a sua criação até a infeliz privatização. Os investimentos dessa empresa decadente que implora por uma salutar guinada para trás foram uma tentativa frustrada de demonstrar que há vida inteligente fora do PAC salvador. Trata-se de uma heresia, uma autêntica blasfêmia. Urge confinar o espírito-animal, ao qual num dia de ressaca, decerto, aludiu Keynes, ao florescente mercado dos carrinhos de pipoca, prestes a ganhar, sob o signo da austeridade que o momento requer, um novo ministério. A inquisição vencerá mais um round! Sejam bem-vindas as trevas! Acolhamos com jogo de cintura macunaímico essa ofensiva contra o desprezível mérito! Os dias dourados do geocentrismo estão de volta na economia.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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