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COLUNISTA
Alexandru Solomon
01/02/2011 - 12h05
Apolo, Cassandra, Mársias e... Mantega
 
 

Ou... Tout va trés bien, madame la “présidente”

Conversa (des)afinada

A mitologia grega é uma fonte inesgotável para extrair ensinamentos, buscar inspiração, ou simplesmente achar graça ao notar a cansativa repetição das velhas lendas, nem sempre jogando uma luz favorável sobre os protagonistas.

Cassandra era filha de Príamo, rei de Tróia e de sua esposa Hécuba. Por conseguinte, era irmã de Heitor e de Páris, entre outros, o que a tornou, de certa forma cunhada de Helena, depois que esta foi raptada por Páris, dando início à guerra de Tróia.

Apolo, irritado por ter “levado um cano” de Cassandra – diriam os integrantes da geração X, ou seria Y? – lançou-lhe uma praga. Ela teria o poder de predizer o futuro, mas nenhuma das suas previsões mereceria crédito. Assim, de nada valeram os alertas de Cassandra quanto ao perigoso cavalo de Tróia, ou quanto ao trágico futuro de Agamenon. Os desastres não foram evitados.

Na história recente da República, Apolo resolveu mudar de tática. Cassandra adquiriu feições masculinas, esfalfa-se em fazer previsões – todas erradas – e vez por outra, há quem lhe dê ouvidos, sem chegar ao cúmulo de levar realmente a sério seus dizeres... Seria um erro considerar o ministro Mantega uma Cassandra às avessas, já que apesar de ter pouco crédito (e de errar todas as previsões), há platéias dispostas a dar-lhe ouvidos? Talvez seja, pois a especialidade de Sua Excelência são apostas tresloucadas, porém em tempo algum há previsões de desastres. Mais parece um intérprete do estribilho da velha canção francesa Tout va trés bien, madame la marquise, sem entrar nos constrangedores detalhes que se seguem.

O que estará motivando essa ostentação de otimismo?

Decerto ele está acreditando nas profecias auto-realizáveis. Ou seja, que essas manifestações de otimismo contagiem os agentes econômicos que passariam a adotar comportamentos capazes de tornar realidade esses sonhos róseos. Mas é preciso “combinar com os russos”. Quando estes, ou o FMI resolvem duvidar da excelência dos parâmetros que Sua Excelência apregoa, os resultados têm a impertinência de se afastar do rumo tão sonhado. O capital covarde pode se retrair, ou exigir melhores condições para aportar por aqui. Detalhes, meros detalhes.

Recentemente, nosso ministro decidiu apostar “garrafas de vinho do bom” que a meta cheia do superávit primário seria atingida. Houvesse ele feito essa aposta no início de 2010, vá lá, mas apostar nisso em dezembro quando não havia mais espaço para a realização de sua profecia otimista serviu apenas para desacreditá-lo. Mais ainda. Não se tem notícia de o ministro ter pagado sua aposta, um vinhedo não teria bastado. Preferiu mandracarias contábeis, que seria ocioso relembrar, destinadas a tapear quem pouco ou nada entende.

Amuado, ao tomar conhecimento de que o FMI manifestara preocupação quanto à deterioração das contas públicas do Brasil, resolveu contra-atacar, num louvável esforço de tapar o sol com a peneira: “Bobagens de algum velho ortodoxo”! Quando os velhos ortodoxos se derretiam em elogios ante o desempenho do Brasil, nada de acusá-los, de falar bobagens.

Voltando à mitologia, há referência a um certame musical – naquele tempo não havia programas de auditório. Apolo com sua lira e Mársias com sua flauta competiram ante um júri exigente composto de ninfas, o rei Tmolo e o rei Midas. Numa contagem apertada, a vitória coube a Apolo, com o voto em contrário de Midas. Enfurecido, ou desprovido de um mínimo fair-play, Apolo brindou Midas com orelhas de asno, para puni-lo. Desesperado, Midas passou a usar um boné para ocultar a desgraça. Apenas seu barbeiro conhecia o terrível segredo. Não podendo mais guardá-lo, cavou um buraco na terra e cometeu a terrível indiscrição.

Os caniços que brotavam na vizinhança passaram a murmurar: “O rei Midas tem orelhas de asno”.

Mas por que fui falar nisso?


Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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