Conversa (des)afinada
O que mais parece fazer falta a Sua Excelência o ministro da Fazenda, Guido Mantega, é o senso do ridículo, já que seria descabido colocar em dúvida seu preparo teórico. Enquanto exerceu a função no governo do “nunca antes”, notabilizou-se por tentativas de segurar a inflação no gogó. Não contente com isso, experimentou fazer apostas tolas, como a de meados de dezembro do ano passado, afirmando que o superávit primário seria de 3,1% do PIB. Não há notícias de ele ter honrado a aposta perdida. Talvez esteja esperando por alguma mágica contábil redentora. Revelou ao mundo entorpecido a existência de uma guerra de moedas, bem como de uma guerra comercial, como se estivesse descobrindo a pólvora, feliz por encontrar quem ecoasse esses achados. Agora, na sua luta para segurar a valorização do Real – preocupação legítima – informa-nos que o FSB, nosso glorioso Fundo Soberano passará a operar no mercado futuro e de derivativos. Esse fundo, nascido de parto induzido, encontrou mais uma utilidade, na sua tentativa de rivalizar com o Bombril. Não é preciso um esforço excessivo de memória para lembrar que o fundo foi criado separando, como se fosse da coxa de Júpiter – num momento de alto superávit primário – determinada quantia. Não que estivéssemos naquele momento com superávit nominal! Ao invés de usar esse dinheiro para abater uma dívida cara, soltamos uns cocoricós ufanistas e todo o mundo se alegrou e houve festejos como “nunca antes na economia desse país”. Não foi esse, aliás, o único “swap cômico”. Ao quitar a dívida pouco onerosa com o FMI, preferimos as delícias da dívida a taxas Selic. (Algo como faria o genro com raiva da sogra que trocaria um empréstimo camarada dela por uma dívida com o agiota da esquina). Pelo que se sabe, o FSB está abarrotado com ações da Petro e do BB. Não tem importância. Lá vai esse fundo guerreiro entrar no universo sem risco dos mercados futuros e dos derivativos. Sem risco de perdas, ainda conforme informou o ministro Mantega do alto de sua competência. Mesmo se o FSB dispusesse dos tais 19 bilhões de reais – cinco vezes o PIB da Groenlândia, sim senhor – fica difícil entender qual o peso que algo como 4% das nossas reservas exerceria. Apreciador da alavanca, assim como Arquimedes, Sua Excelência pede apenas um ponto de apoio para levantar o mundo, perdão, o dólar. Sem risco cela va sans dire. E já que o FSB não dispõe de dinheiro sonante, sobrou para o Tesouro, isto é o contribuinte, ou não? (ou será que o tal tesouro é uma fortuna enterrada na ilha de Monte Cristo?) Decerto os demais países que possuem fundos soberanos ainda terão muito que aprender com nosso ministro da Fazenda.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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