Conversa (des)afinada
Com o “Guidinho” empossado – ou seria empoçado – há uma preocupante possibilidade de chegarmos a uma taxa real de juros da ordem de 2% conforme o desejo formulado pela NOSSAPRESIDENTE – e bem rapidinho, nem será preciso esperar a chegada de 2014. Não há back-log de criatividade no estoque de ”mandracarias” na Fazenda. Levante a mão quem duvidar! A solução criativa: Basta termos uma ‘pequena inflação’, que assim como um ‘pequeno câncer’, não merece cuidados especiais. Já se ouvem vozes falando numa redução da Selic, acarretando uma baixa ‘drástica’ do serviço da dívida e com a economia assim realizada, muitos zilhares de casas populares, super-PACs etc. e tal serão viabilizados, com crescimento ‘vigoroso’ do emprego e ‘sensível’ fortalecimento do mercado interno, sem contar que isso derruba o Real, melhora ‘consideravelmente’ a competitividade nas exportações, podendo acarretar eventualmente apenas um pouco de inflação adicional com a ‘ligeira’ alta do dólar e um ‘ligeiro’ choque de oferta (vamos deixar pra lá esse papo inócuo de realimentação), e “puxa vida, como não pensamos nisso antes”? E se a inflação disparar? A exemplo de Scarlett O´Hara, “nisso pensaremos amanhã”. Torço para que o aprendiz de feiticeiro, fascinado pelos botões multicoloridos do painel da embarcação, tenha por perto um modelo quantitativo capaz de justificar e sobretudo controlar essas peraltices, caso contrário, a vassoura mágica poderá varrê-lo, com fundo musical de Paul Dukas. Falar em ‘muito’, ‘pouco’, ‘consideravelmente’, ‘sensivelmente’, “vigoroso’, ‘drástico’, ‘pequeno’, ‘grande’ etc. jamais substituirá uma abordagem séria. Já se disse que administração por adjetivos e advérbios não é coisa séria, apesar de funcionar em palanques, rodas de chope ou corredores da FIESP. Lord Kelvin afirmou que se não houver a possibilidade de associar números a um fenômeno – em suma, medi-lo – o conhecimento resultante será do gênero insatisfatório. Mas ele já morreu. Parafraseando o genial bebum fumante: Um pouco de rigor Meirellico aleija, ataques de ‘desenvolvimentite’, podem matar. Tomara que o porquinho Palocci, ou algum outro integrante do (ainda em formação) Zoológico do Planalto, segure essa. De resto, Guidinho, uma Cassandra moderna que diferentemente da verdadeira, jamais acertou um prognóstico, mas a semelhança dela emitiu profecias nas quais ninguém de bom senso acredita é apenas mais uma nuvem no horizonte. AS DECLARAÇÕES DO (JÁ CONFIRMADO) MINISTRO, FAZENDO A APOLOGIA DO CONTROLE DOS GASTOS É APENAS MAIS UMA CAUSA DE PREOCUPAÇÕES. NÃO É A PRIMEIRA VEZ QUE AS CONVICÇÕES DE SUA EXCELÊNCIA SOFREM UM DESVIO DE 180°. AO MENOS, SEU RETROSPECTO DEMONSTRA QUE UMA VEZ ADOTADA A GUINADA, A ELA PERMANECE FIEL, ATÉ ORDEM EM CONTRÁRIA DO “PATRÃO’.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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