Depois dos afastamentos dos vereadores devido a irregularidades nas eleições para o Conselho Tutelar, do muro da Praia Vermelha, do confisco dos computadores para investigação policial relativas ao desvio de verbas do IPTU e de algumas mortes em situações que apontam para a precariedade do atendimento oferecido pela Santa Casa e pela rede de postos de saúde, chegou a hora da bonança. E a entrada em uma nova era de esperança foi marcada pelo magnífico show de Renato Teixeira no Areia Summer, dia 09/11. Além do fato de ser uma grande referência nacional, um artista de extraordinária sensibilidade, cuja arte está construída sobre sólidas bases da mais genuína arte e saber popular, a presença de Renato Teixeira dá à campanha pela Santa Casa a credibilidade de uma pessoa com profundas raízes afetivas com o município. O fato da Santa Casa ter origem em iniciativas de sua família só vem solidificar o seu engajamento pela causa e é realmente um nome para ser o embaixador da causa do SELO SOCIAL que visa construir o apoio e a apropriação desse serviço por todos, pois todos nós dependemos desse serviço para nos sentirmos seguros quando nos tornamos vulneráveis em termos de saúde. Não podemos mais continuar a chorar por entes queridos que, ao necessitar de serviços médicos, perdem a vida por não termos um serviço que atenda às nossas necessidades. Uma pessoa que não conheço enviou-me um longo e-mail reproduzindo o que havia encaminhado ao prefeito e ao secretário de Saúde contando a situação que enfrentou ao procurar a Santa Casa. Talvez, pelo que escrevo e publico, tenha visto em mim um porta-voz da comunidade. Segue abaixo, trechos desse e-mail: “Na madrugada do último dia 10 para o dia 11 (de outubro) havia apenas um único médico para atender toda a população dessa cidade e atender também os milhares de turistas que para essa cidade se dirigiram para passar este último feriadão?” E ele conclui: “Os turistas que para aí se dirigem deveriam ter conhecimento prévio das condições de atendimento hospitalar que a cidade está oferecendo (que tal a Prefeitura distribuir folheto nas entradas da cidade chamando a atenção para a precariedade do atendimento hospitalar à disposição e os riscos consequentes para o turista que vai para essa cidade!!!), assim, quem sabe pensariam 2 vezes antes de adentrar com suas crianças e demais familiares numa cidade que ao que parece não se preocupa com a Saúde dos turistas.” No entanto, de acordo com reportagem da Vnews, “o secretário de Saúde de Ubatuba, Clingel Frota, disse, por telefone, que o quadro de médicos na Santa Casa está completo e que atende a demanda da cidade.” E qualquer cidadão que resida no município certamente concluirá que, mais que aos turistas, a preocupação deve ser com quem mora aqui o ano todo. É quase certeza que a maior parte dos turistas não conhece a precariedade do atendimento nos postos de saúde, onde devem se concentrar todos os esforços, pois a prevenção é mais barata, atinge mais pessoas e evita gastos maiores depois que a doença se instala. Também evita que a Santa Casa fique sobrecarregada, impedindo-a de atender os casos mais urgentes. A própria Santa Casa faz esse diagnóstico, de acordo com o que foi publicado pelo Vnews em 04/08/10: “De acordo com levantamento feito pela Santa Casa, 400 pessoas são atendidas diariamente. Mas apenas 20% são casos emergenciais ou urgentes. O atendimento ambulatorial, que deveria ser feito nas unidades básicas de saúde do município corresponde a 80%.” A população se vê obrigada a recorrer à Santa Casa, porque não encontra nos postos e ambulatórios um atendimento adequado. Portanto, sem resolver o atacado (o atendimento primário nos postos de saúde), será muito difícil resolver o varejo (que é em menor número, mas é mais caro e requer urgência, pois um paciente não pode esperar quando está tendo um enfarte ou está perdendo sangue). Reconhecemos que esse problema vem de outras administrações, mas a atual já está quase no fim do seu segundo mandato e quando a oposição denuncia, diz que é obra de apenas um pequeno grupo. Somos cidadãos, pagamos impostos (bem altos) e temos o direito de apontar as falhas quando elas ocorrem. Se a manifestação contra o descaso na saúde foi pequena é porque muita gente tem medo de denunciar e sofrer retaliações. Não temos nada contra os funcionários da Santa Casa, porque não dá para prestar um serviço de qualidade se há falta de materiais e de condições físicas. Se há problemas na maneira de atender o público, cabe a quem dirige a instituição e ao departamento de recursos humanos tomarem providências para corrigir a situação, oferecendo cursos de formação e de reciclagem em serviço. Para isso, deve haver uma ouvidoria pública atuante e atenta. Constato que nessa área houve algum avanço porque, ao receber um atendimento grosseiro e fora dos padrões, registrei queixa e, logo em seguida o Sr. Daniel ligou para minha casa para averiguar o que havia ocorrido. Torcemos para que tudo dê certo porque, como mortais, todos estamos sujeitos à doenças e acidentes. Mas para isso, é necessário que as mudanças e os recursos não fiquem só na Santa Casa. É preciso que os postos tenham médicos para atender. Mas tudo que está acontecendo em Ubatuba, é quebranto, é mau olhado. E para isso, Renato Teixeira deu a solução cantando com todos uma reza, uma genuína manifestação da cultura popular. Como o prefeito e toda a sua equipe estava lá e foram abençoados, instalou-se uma trégua e um clima de paz. Esperamos não mais receber ataques e baixarias desses jornalecos que se alinham à administração municipal. E antecipadamente agradecemos.
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
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