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COLUNISTA
Alexandru Solomon
13/10/2010 - 12h12
O primeiro debate do segundo turno
 
 
Conversa (des)afinada

A candidata Dilma Roussoff (de acordo com Chávez) abandonou o figurino “paz e amor”. Se foi ou não uma boa idéia, o futuro dirá. De qualquer maneira, o pugilato teve baixa audiência – segundo a Band, variou de 4 a 6 pontos. É forçoso admitir que sem uma boa dose de masoquismo, permanecer acordado até o final é praticamente impossível. Provavelmente, os eleitores de Tiririca e de seus equivalentes em outros estados não presenciaram a troca de farpas e tijoladas. Abandonando o perfil adocicado e partindo para a versão ‘pitburlesca’, Dilma fez a aposta que ’El comandante’ impôs.

O debate foi marcado pela “maldição da tréplica”. Com efeito, esse modelo de debate interrompe o diálogo, como se com uma tréplica se encerrasse o assunto de maneira definitiva. É um engessamento até agora mal resolvido.

Para ilustrar esse fenômeno de uma maneira simplificada, até grotesca, imaginemos a seguinte sequência:

A: Por qual motivo você não gosta do povo?

B: Gosto, sim. Afirmar o contrário só pode ser baixaria.

A: Não é verdade, nos últimos anos você demonstrou não gostar.

B: É tudo mentira orquestrada por sua campanha! Blá, blá, até esgotar o tempo.

Fim. Os candidatos passam, obrigatoriamente, para o próximo round tenham ou não sido prestados os esclarecimentos que a platéia insone merece. Ou não merece? Sem contar que perguntas abrangendo mais de um questionamento correm o risco de serem parcialmente respondidas – com omissão voluntária ou não de um ou mais tópicos incômodos. Desse mal ambos os candidatos padeceram.

Dilma bateu insistentemente na tecla que igual a Lula foi e continua sendo vítima de calúnias, segundo ela vindas da campanha de Serra – o homem das ‘mil faces’ (superior à Hidra de Lerna com apenas nove cabeças). Serra estaria disseminando o ódio num país em que ‘árabes e israelenses sentam à mesma mesa (sic)’. Mais comedido, mas não menos contundente, Serra contentou-se em atribuir apenas duas faces à adversária.

De qualquer maneira, um ataque sem base real não é uma estratégia vencedora, a partir do momento em que se revela a inexatidão dos ataques. Por exemplo, Dilma mencionou dois bons planos educacionais de Alckmin descontinuados por Serra. Terminado o debate, quando entrevistado, Geraldo Alckmin desmentiu a interrupção dos tais planos. Como ficamos? A candidata precisa “informar-se melhor” – ela adora essa expressão –? Geraldo mentiu? Como saber? Merecemos saber, já que deixamos de dormir ou assistir um filme no TV Cult?

Uma outra acusação, desta vez na anunciada linha dos ataques antiprivatistas, foi a insinuação de que Serra – atendendo a uma suposta afirmação do ex da ANP, contidas num estudo/artigo, estaria propenso a privatizar o pré-sal, fonte de riquezas capaz de acabar com as injustiças no Brasil. O que seria, em primeiro lugar, "privatizar o pré-sal"?

Pausa para meditação. Apesar de Serra ter negado, invocando uma trajetória iniciada na presidência da UNE, sempre a favor da Petrobras, vale a pena refletir um pouco.

Dilma apresentou como trunfo a recente capitalização da Petro, em contraposição à venda durante o governo FHC de ações (milhares de quotistas do FGTS não devem ter achado ruim). Misturando um pouco os números, afirmou ter aumentado a participação do governo – logo do povo – de 31 para 48%. Ocorre que o 48% representa a participação do governo, somada ao Fundo soberano e ao BNDES. Como ocorreu e qual a vantagem desse aumento?

Em termos de controle – que permite subordinar a Petrobras a políticas do governo, por exemplo; definir percentagem de nacionalização de insumos em novos projetos – não há diferença entre possuir 50%+1 ações ou 99,999% das ações com direito a voto, e isso a candidata Dilma sabe perfeitamente. O tempo à disposição dos candidatos impossibilitaria qualquer discussão mais aprofundada. Mas qual a vantagem da operação, tal como foi realizada, com aumento da participação “do povo”?

A diferença reside no montante de dividendos que a União+BNDES+FSB receberão. Num primeiro momento, como houve um aumento de ações e o lucro não deverá variar sensivelmente a curto prazo, garante apenas “grosso modo” a manutenção do montante dos dividendos “do povo”.

Se quisessem discutir um pouco a cessão onerosa na capitalização, concluiriam que a União vendeu bilhões de barris para a Petrobras, e com esse aumento da participação, a União+BNDES+FSB compraram mais barris... da União, do que se o tal acréscimo não houvesse ocorrido. A União comprou, através da Petro, algo como a metade de seus próprios barris. Em resumo, menos dinheiro novo para os investimentos da Petrobras, já que a moeda “barril remoto” é de difícil conversibilidade. Mais papel da dívida interna... e com um pouco de honestidade intelectual, a aceitação de um fato simples: O decantado aporte de 120 bilhões de reais não se deu exclusivamente em dinheiro disponível para financiar a expansão da estatal intocável. Não era o momento de analisar a evolução das cotações da Petro, já que oscilações, mesmo as negativas, acontecerão sempre, e não é o discurso inflamado de NOSSOPRESIDENTE que influirá nisso.

O termo ”privatização” virou sinônimo de crime de lesa-pátria. Há uma boa dose de exagero nisso. A privatização, ou desestatização como prefere o professor Kanitz, não significa “entregar de graça” uma empresa a capitalistas vorazes daqui e de fora. É uma operação de venda não necessariamente ruinosa. As vantagens óbvias são a redução do passivo da União e a diminuição de cargos objeto de barganhas políticas. Se a Petro deve ou não ser desestatizada é uma outra história.

Venda de ações de uma estatal não pode ser considerada uma heresia, tanto é que recentemente o governo Lula vendeu ações do BB, outro ícone sagrado da visão estatizante. Parte dessas ações (ou ADRs, para ser mais preciso) foram parar em Wall Street – antro ainda insuficientemente satanizado.

Por falar em Banco do Brasil, poderia alguém falar algo a respeito do Banco da Itália, da França, da Inglaterra, dos EUA? Não vale falar nos respectivos bancos centrais.

Serra perdeu uma excelente oportunidade de responder à pergunta: “Como acreditar em quem registra em cartório a promessa de não sair candidato a governador, enquanto na Prefeitura”. A resposta mais óbvia teria sido: “Essa pergunta poderia ser dirigida aos eleitores que deram a vitória de Serra na eleição para governador, à qual concorreu atendendo o desejo da coligação”.

Quanto aos projetos futuros, reformas, sustentabilidade e trem-bala(bras), paciência. Essas informações ficaram para uma outra nova e imperdível oportunidade.


Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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