De relance, vi na TV uma série de entrevistas com populares. Chamou minha atenção uma declaração: votei no Tiririca porque ele é ficha limpa. Mas em Ubatuba, Tiririca teve quase a metade dos votos de um candidato várias vezes denunciado por corrupção. O que explicaria a atitude dos eleitores do município? São mal informados ou se renderam à força do dinheiro que manteve uma forte propaganda? Para a população fica difícil entender a pressa em cassar Tiririca quando pessoas que estão sendo processadas há muito tempo, mas que tem dinheiro para pagar “bons” advogados ainda estão concorrendo e recebendo milhares de votos. Há suspeitas de que Tiririca seja analfabeto, o que justificaria sua cassação. No entanto, hoje se luta pela inclusão de deficientes físicos, reconhecendo que podem dar importante contribuição para a sociedade; então, não seria hipocrisia impedi-lo pelo fato de ser analfabeto quando candidatos com maiores problemas permanecem? Não é possível participar usando apenas a oralidade? Ser analfabeto significa que a pessoa não tem capacidade de discernir o certo do errado, o melhor e o pior? É bem verdade que o fato de uma pessoa não saber ler ou escrever cria uma série de dificuldades para a sua atuação, colocando a pessoa na dependência de um assessor que o ajude a decodificar e elaborar textos escritos. De que adianta ser alfabetizado se a pessoa não tem compromisso com a ética? Quem causa mais danos à sociedade: o político sem ética ou o analfabeto? Não sei se ele é realmente analfabeto, mas acredito que esse empecilho possa ser resolvido pois não acredito que não tenha capacidade de se alfabetizar em pouco tempo. Quando ele pergunta: “você sabe o que faz um deputado?” revela um humor ferino, próprio de pessoas inteligentes, uma situação em que o eleitor fica “abestado” com a atuação de um grande número de políticos. “Abestado” aqui seria no sentido de surpreso, de não acreditar no que está vendo, tamanha a falta de sentido. É só assistir uma sessão da Câmara de Ubatuba, para também se sentir “abestado”, para ver o quanto estamos sendo lesados pagando para ver vereadores que só apresentam moções e nenhum projeto relevante, vereadores que não cumprem sua obrigação constitucional que é a fiscalização dos atos do executivo. Por isso concordo com o Dirceu Cardoso Gonçalves (O Guaruçá, 05/10/10) quando ele diz que “Com a avalanche de votos que o levam até Brasília, Tiririca tem tudo para se tornar uma importante referência política.” Também espero que “para o seu bem e o da própria sociedade, tenha ele condições de desempenhar um bom trabalho e, até, interpretar para as elites políticas, o pensamento do povo que o elegeu.”
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
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