Durante muitos anos participei do Movimento de Saúde e Educação da Região de Interlagos. Essa experiência foi muito importante porque reunia moradores, professores, médicos sanitaristas e profissionais de saúde e através dessa ação conseguimos mais rapidamente a instalação e ampliação de postos de saúde, hospitais, e rede de água e esgoto. Anos mais tarde, durante a epidemia de cólera, sanitaristas concluíram que ela teria sido devastadora na região sul de São Paulo se ainda não tivesse sido expandido o sistema abastecimento de água. O primeiro ponto que mobilizou a população foi a experiência de familiares morrerem porque na região não havia nenhum hospital. Aos poucos, os médicos sanitaristas conseguiram mostrar que, embora seja terrível a experiência de ter um parente morto por falta de atendimento de emergência, o gasto com a medicina preventiva é mais barata e evita maior mortalidade, especialmente a infantil, e, posteriormente maiores gastos com medicina curativa. Essa economia poderá garantir que mais dinheiro seja usado para a construção e manutenção de hospitais especializados. Além dos programas de vacinação, de acompanhamento pré-natal, pediátrico e às mães, outra medida preventiva é a garantia de saneamento básico para todos, pois um grande número de doenças são veiculadas através da água contaminada. Especialistas garantem que para cada um real gasto em saneamento, economizam-se três reais em gastos com saúde. No caso nosso, de Ubatuba e do Litoral Norte, a implantação de serviços de tratamento de esgoto é uma das condições para garantir a balneabilidade das praias e rios e, consequentemente um maior fluxo de turistas, garantindo a geração de mais empregos e renda. Na última temporada, os comerciantes de Ilhabela amargaram o maior prejuízo pelo fato de quase todas as suas praias mais freqüentadas ostentarem as bandeiras vermelhas indicativas de poluição e de impróprias para banho. A grita foi geral obrigando o governo estadual a se mover e a prometer obras e metas urgentes para solucionar o problema. Ubatuba está caminhando para a mesma situação. Quem observa a tabela de balneabilidade das praias pode constatar que, a cada ano que passa, mais praias são atingidas pela poluição e por períodos cada vez mais longos. Antes, era apenas as praias do Cruzeiro e de Itaguá que permaneciam quase o ano todo com bandeira vermelha; agora, começam a aparecer com mais freqüência Perequê-Mirim, Itamambuca, Perequê-Açu, Picinguaba, Lázaro, Saco da Ribeira e até a Domingas Dias. A promessa de aceleração do plano de saneamento básico vem desde o governo Covas. Os encanamentos do Perequê-Açu permaneceram enterrados e sem uso durante tanto tempo que tiveram que ser substituídos gerando mais gastos. É o nosso dinheiro que foi para o ralo por falta de planejamento. Nesse momento em que se discute candidaturas e planos de governo é muito importante lembrar das promessas antigas e não cumpridas e as conseqüências que todos nós sofremos. Não adianta se mobilizar apenas contra o mau atendimento e a falta de condições da Santa Casa e dos postos de saúde. A falta de tratamento de esgoto pode causar muito mais danos à população. É pena que muitos ainda não percebam isso.
Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
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