Conversa (des)afinada
Engraçado! Estão dando Dilma como barbada. A ponta vai pagar 1,00 para cada 1,00 apostado, e olha lá. Mas quem é Dilma? O que ela pensa? Ela já disse que ajuste fiscal é desnecessário. "O papo de ajuste fiscal é a coisa mais atrasada que tem. Não se faz ajuste fiscal porque se acha bonito. Faz porque precisa. E eu quero saber: com a inflação sob controle, com a dívida caindo e com a economia crescendo, vou fazer ajuste fiscal para contentar a quem? Quem ganha com isso? O povo não ganha." Será que ela entende do riscado? Será que se dispõe a ouvir as vozes de quem entende? Será que vamos brincar com os dados da dívida como os Kirchners brincam com os dados da inflação argentina? Esse Fundo soberano de araque, em vez de quitar dívidas vai receber mais recursos. De onde? Como? Depois dirão que o efeito sobre a dívida líquida é nulo. Mas a BRUTA AUMENTA! Sobre a corrupção vigente melhor não falar. Simplesmente, não existe. Os ribeirinhos devem estar discutindo os dados do PNAD e a taxa de juros neutra. Nos grotões só se fala em PIB potencial. Pobre país! Os órgãos aparelhados da administração juram serem capazes de nos levar à Terra Prometida do Caixa dois. Será que os eleitores, cuja vontade poderá levar ao triunfo de Dilma já no primeiro turno, sabem em quem estão votando? Como podem saber se ela se limita a desempenhar o papel de Mãe de todos, de acordo com o script marqueteiro. Vez por outra, emerge a personalidade rude, logo dissimulada sob as camadas artificiais de maquiagem e sorrisos sob encomenda. Do alto de sua popularidade, o pai da matéria, Lula brada: "Se mantenham tranquilos, porque outra vez, Dilma, nós não vamos derrotar apenas os nossos adversários tucanos. Nós vamos derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como se fossem partido político e não tem coragem de dizer que são partido político, que têm candidato, que não são democratas e pensam que são". Esse ‘rebolation’ palanqueiro presidencial – durante suas horas-extras, of course, baby – na base da gritaria, ultrapassando os limites do decoro e da majestade do cargo hipnotiza multidões. Mas uma multidão de cegos não vale um vidente, já dizia Giordano Bruno – antes de desfrutar das delícias da fogueira. Mas quem decidirá a eleição, Cândido? Mais agitado do que nunca, Sua Excelência sonha em ter seu perfil cunhado nas moedas do Reino. Vamos extirpar o DEM, Presidente? Vamos “orientar, disciplinar e fiscalizar” a imprensa? Vamos implantar o “controle social” da mídia? A História ensina para onde levam esses caminhos. Vivemos um momento estranho. Os escândalos são coisa corriqueira. A banalização dessas “proezas” parece fato consumado. A desculpa é que não há nada de novo. Exceto a intensidade! Às vítimas imputa-se o fato de terem tido o sigilo quebrado. De queixosos viram réus. A sociedade anestesiada, vive de estômago cheio, essa aventura. Tudo que de bom ocorreu por essas bandas traz a assinatura do NOSSOPRESIDENTE. Tudo que ruim se vê vem de um passado do qual nos envergonhamos, e do qual procuramos nos livrar, vem da detestável era a.L (antes dele). Rendamos tributo ao maior gênio político, financeiro e diplomático de todos os tempos! Nunca antes na história deste país as frases: “Não sei de nada”, ou “Não vi”, com os corolários “Fui traído”, “É mentira”, “É jogo sujo de desesperados”, foram tão usadas. A culpa é da imprensa que desfruta de ‘liberdade em excesso’. As “patotas progressistas” apontam dedos acusadores, brandem bandeiras, escandem slogans retirados da naftalina ideológica. Depois da lavagem cerebral, virá a secagem cerebral, com o inevitável encolhimento neuronal da sociedade. Esse “depois” poderá ser o governo Dilma – a misteriosa Galatea saída dos laboratórios do Pigmalião de Garanhuns. Alguns erros são pagos a vista, outros, a prazo. Mas não há como deixar de pagar! E isso não é nada engraçado.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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