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COLUNISTA
Alexandru Solomon
11/09/2010 - 16h07
Os best-sellers vivem num reino?
 
 
(A equação sem raízes reais)

O Estadão publicou em 04/09 um artigo de autoria de A. P. Quartim de Moraes, no qual procura explicações para o fenômeno do sumiço dos autores nacionais e conclui fazendo um apelo aos ‘publishers’ que “precisam olhar para o futuro e pensar também na responsabilidade social e cultural que o seu negócio implica”. Resolvi acrescentar algumas observações, que foram encaminhadas ao autor do artigo.

Li atentamente seu artigo “No reino dos Best-sellers” do Estadão de hoje (04/09 A2) e tomo a liberdade de dar um depoimento baseado em minha experiência. Para não alongar a história, convertendo-a num tedioso ego trip, em 2000 decidi transformar-me no ‘empresário que virou escritor’, a exemplo do engenheiro que um dia virou suco. Houve um período de superposição, o famoso overlap, e a partir de 2003, o empresário deu lugar em definitivo ao aspirante a escritor.

Publiquei dez livros, o último deles, Bucareste, em agosto 2010, tive trabalhos premiados em concursos nacionais e internacionais; deixando de lado os certames nacionais, cito: Teramo, Sicilia, Otranto, Basiléia e Algarve e aposto mil ducados de ouro contra um par de tênis Nike usados que o senhor jamais ouviu falar de mim. Acho deselegante comprometer aqui os escritores que me honraram com seus prefácios, mas houve quem me conferisse esse ‘selo de qualidade’.

Não foi difícil descobrir que “a literatura brasileira vende pouco porque as grandes editoras, que ditam os rumos do mercado, não estão dispostas hoje, salvo as honrosas exceções de praxe... a botar dinheiro nela”. Reconheceu seu texto? Pois é.

Já que não penso como Virginia Woolf que a maior satisfação consiste em escrever, e ser lido é apenas uma satisfação efêmera, por problemas de ego inflado, vaidade ou qualquer outro tipo de pecado, venial ou não, resolvi tomar de assalto esse reduto. A primeira tentativa que consistiu em apresentar textos a editoras famosas e aos integrantes espinhentos dos seus comitês de redação, resultaram no recebimento – quando muito – de missivas relativamente gentis, convidando-me a tentar novamente. Segui o roteiro Sinatra: Let me try again! Certo ou errado, coloquei fé no que escrevi.

Coloquei o Plano B em ação, bancando de A a Z o trabalho das editoras, vale dizer, cheguei até o degrau ‘livreiros’, suportando o ônus da impressão, encontrando parceiros dedicados para os lançamentos e distribuidores.

Descobri que as grandes livrarias atuam baseadas no detestável modelo Carrefour (para dar um exemplo, sem desmerecer o Extra, Deus me livre). Em linguagem menos evasiva, uma vez concluído o lançamento, essas dignas empresas que jamais se pejaram em arrecadar tranquilamente 50% do produto das vendas do evento inicial, recolhiam os livros ao estoque. Não o faziam decorridos 20, 30, 60 dias. O faziam no dia imediatamente posterior ao "evento lançamento", para o qual não haviam contribuído com um maravedi sequer. Generosamente, ofereciam a possibilidade de o livro continuar no mesão, gôndola, tela de plasma, o que fosse, mediante pagamento de uma taxa, totalmente desproporcional ao esforço de vendas. Descobri isso “the hard way’, ou seja, pagando. Para os distribuidores, desnecessário dizer, é mais cômodo distribuir Dan Browne do que Alexandru Solomon. Quem poderia culpar esses dignos homo economicus, uma vez que entregariam meus livros às livrarias que, na melhor das hipóteses, precisariam de clientes com vocação para contorcionistas se quisessem encontrá-los em locais de fácil acesso apenas para praticantes de ginástica olímpica, modalidade solo.

Em momento algum, concluídas minhas primeiras experiências fiz apelo aos ‘publishers’. Estava um passo à frente da humilhação das recusas polidas, tinha o produto pronto em mãos. Para não morrer abraçado às obras nas quais acredito – iludido decerto pelos prêmios conquistados nos certames aos quais aludi, pelas opiniões suspeitas de amigos, pelo comparecimento no Google etc., tentei a via espinhosa das colunas especializadas. Devo dizer que, nesse ponto, houve total franqueza. Ninguém falou ser ‘meio-difícil’. Simplesmente, “em função da atual carga de trabalho, é impossível examinar / resenhar seus trabalhos”. Isso quando havia a gentileza de uma resposta, fato que não constitui uma rotina universal. Claro, não? Em um caso, mais “exótico”, recebi a justificativa de o espaço das resenhas ser ocupado pelo advento de um inesperado centenário de Guimarães Rosa, fato que impossibilitava etc. etc... Contra tais imprevistos não há argumentos, ambos haveremos de convir. Naturalmente, não será uma resenha – na melhor das hipóteses – elogiosa que irá aplainar o caminho da fama. É obrigatório, contudo, admitir que a ausência dessas é mortal. Impossível culpar a ‘zelite’ reticente em desperdiçar seu tempo com um produto de cuja existência não possui sequer a mais tênue idéia.

Tudo isso para dizer que, mesmo superadas as barreiras listadas no seu artigo, a possibilidade de vegetar no incômodo limbo do anonimato nem de longe estará descartada. A obtenção do visto de entrada no reino dos best sellers é marcada por obstáculos outros.

P.S.: Gostaria que entendesse que se trata apenas de uma constatação, não havendo, nem de longe, a intenção de produzir um texto lamuriento. Continuo achando tudo isso extremamente divertido.


Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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