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COLUNISTA
Rui Grilo
07/09/2010 - 07h01
Por que Viçosa e não Ubatuba?
 
 

É com muita esperança e satisfação que vejo a juventude de Ubatuba se organizar e buscar a adesão dos demais através do Movimento Pró-Universidade Pública de Ubatuba.

Muitos poderão pensar que é só um sonho de jovens que dificilmente será realizado e que Ubatuba, pelo tamanho de sua população, não comporta esse tipo de reivindicação. Mas isso não é impedimento suficiente como veremos abaixo.

Viçosa é uma cidade de Minas que tem 74.000 habitantes, portanto, um pouco menor que Ubatuba no que se refere à população. Tornou-se uma referência nacional e, quem sabe até mundial, devido à presença da Universidade Federal de Viçosa, com mais de dez mil alunos e que desenvolve trabalho de pesquisas agropecuárias e de apoio aos produtores rurais. É frequentemente citada no programa Globo Rural. Seu IDH é de 0,855, considerado elevado, enquanto o de Ubatuba é de 0,795, considerado médio.

Cambridge, em Massachusetts é um pouco maior, com 101.000 habitantes. É um município que estava em decadência e se tornou referência mundial devido à presença da Universidade de Harvard e do MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts, concentrando em seu território o maior número de prêmios Nobel (cerca de 80 a 90).

É evidente que a instalação de uma universidade ou de um grande centro de pesquisa não traz benefícios apenas aos alunos que nela estudam, pois contribui para a circulação da economia e de novas demandas de mão de obra, de infraestrutura e de recursos socioculturais. São necessárias novas moradias, transportes, serviços bancários, maior variedade de comércio, equipamentos de saúde e de lazer.

O maior impedimento a essa conquista é a disputa com outros municípios que também lutam por esse mesmo objetivo.

Por isso é necessário ter clareza dos recursos de que dispomos e as necessidades do mercado no que se refere à absorção dos novos formados.

Cada vez mais se levantam argumentos a favor do maior consumo de peixes e redução de carne bovina, tanto pelos benefícios à saúde que a carne de peixe oferece, quanto ao fato da bovinocultura aumentar a produção de metano, exigir grandes espaços e grandes quantidades de água, ameaçando as florestas e a produção de alimentos vegetais.

Ubatuba tem uma vasta área costeira que poderia ser melhor aproveitada para a maricultura, aumentando a produção de peixes, frutos do mar e algas. A instalação de institutos de formação de tecnólogos e de pesquisadores na área marinha muito poderia contribuir para a região para a criação de empregos e para a manutenção do equilíbrio da fauna aquática e do ecossistema.

O mar e as florestas relativamente preservados, longe de ser um empecilho à sobrevivência da população local, poderiam se transformar num fator de desenvolvimento do turismo, comércio e serviços, com a formação e qualificação de mão de obra e de pesquisas que indiquem o aproveitamento e o melhor uso desses recursos.

Para atender o atual nível de desenvolvimento, há uma escassez e urgência na formação de mão de obra qualificada. Para isso, o PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação – tem como meta a construção e a instalação de mais de 200 Institutos Federais, espalhados por todo o Brasil, devendo cada um deles estar voltado às necessidades e características locais.

Ubatuba já possui uma série de instituições que estão desarticuladas, mas que, através de acordo e parceria, poderiam contribuir como bases de apoio para estágio e formação: o Horto Florestal, o Instituto de Pesca, a APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios), o Instituto Oceanográfico, o Tamar, o Aquário, a CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral), os Parques Estaduais da Serra do Mar e da Ilha Anchieta.

Não podemos nos fechar no pedido de uma UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo. Devemos explorar todas as possibilidades, entre as quais um campus da USP ou da UNESP.

Neste final de semana recebi um assessor do ex-prefeito de Araraquara que relatou o empenho do prefeito em mobilizar todas as forças da cidade para a elaboração de um projeto que sensibilizasse o governo federal, apesar da desclassificação na primeira leva. Essa mobilização é que tornou possível a instalação de um Instituto Federal de São Paulo voltado para a tecnologia da informação.

Não podemos deixar que o sonho morra. É necessário que o sonho se transforme em energia e ação, que una os cidadãos de Ubatuba em torno de um ideal que viabilize melhores condições de vida para todos.


Nota do Editor: Rui Alves Grilo é professor da rede pública de ensino desde 1971. Assessor e militante de Educação Popular.
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