Conversa (des)afinada
Algo de novo no front Escorado na filosofia do "eu não sei de nada”, o governo do PT toma algumas ’liberdades’ assustadoras. Assustadoras para a oposição histérica. Dados existem para serem agrupados. Certo? Chega desses medos irracionais, dessas fobias patológicas, desse culto exagerado às liberdades individuais, a pretexto que estão garantidos pela Constituição! Chega! Foram quebrados alguns sigilos, e daí? Então, fica combinado isso: No mundo existem malfeitores. No Brasil, também. Fazemos parte do mundo, ou não? Se fazemos, temos direito ao nosso quinhão. Alguns desses seres malfazejos são aloprados, outros praticam crimes graves, mas isso nada tem a ver com o PT, muito menos com Lula e, em proporção infinitamente menor, com a candidata Dilma Rousseff. Ainda hoje, 02/09, em cartas dos leitores do jornal Valor, um cidadão achava normal que a Receita acessasse os dados de contribuintes. Como dizem os americanos: ’he missed the point’. Não se trata de a Receita examinar, tornar a examinar e reexaminar declarações de contribuintes, em função de denúncias, cruzamento de dados ou simples fiscalizações por amostragem. O ponto ardido é compartilhar esses dados com protagonistas do jogo político. Os culpados são, pela ordem, Serra, a filha dele e a imprensa golpista. A mutação genética dos aloprados do R$ 1,5 milhão em 2006 deu nesses neoaloprados de 2009-10, que bisbilhotam e vazam dados. Digam o que tem isso a ver com Lula ou Dilma (nome artístico de Lula – ele mesmo disse "está escrito Dilma, mas leiam Lula")? Apresentem provas! Eles mandaram fazer? Tem em algum lugar a assinatura deles numa ordem de serviço? Hein, hein? Eles são os primeiros a se surpreender, e, patrioticamente, bradam por uma rigorosa apuração por justiça! Tá certo, até agora de Zé Dirceu a Marcos Valério, passando pela galeria de horrores dos Waldomiros, Lorenzettis, Delúbios e outros tantos, alguém foi julgado? Digo julgado até o fim, não essa brincadeira de ’estar sendo julgado’ *ah sim pegaram um cara do esquema de Valério – deu hoje no Estadão* (apostem que vai recorrer; ao Superior, ao Supremo, ao Extremo etc.). Calma gente, mais uns anos, 2, 3, 5, 15 anos, tudo ficará apurado e a justiça triunfará – ou a alopração caducará. Mientras... In the meantime... en attendant... enquanto isso... Os ’companheiru’ que fazem banco de dados o fazem talvez por perversidade congênita – alguns podem ser intrinsecamente maus – talvez por idealismo – quem não adora se sacrificar em prol da causa justa do povo, mesmo correndo o risco de uma demissão por justa causa? Mas o fazem a revelia do pai e da mãe do povo. Tanto é que os dados ficam zanzando por aí. Algum desses ‘elementos’ chegou para Luiz Inácio da Silva, falando: ’Cara: tenho uns dados bacana aqui’. ’Deixe-me ver’... ’cá estão’...’ legal, cumpanheru, vamos ferrar a oposição golpista’! Isso não aconteceu, nem acontecerá. Algum chefe do setor de cabos chegou ao presidente da Telefonica para mostrar como se faz uma emenda – de cabos, não uma PEC? Então, chega de desespero de mau perdedor. Está tudo dominado. Não se fala mais em dados, só de vez em quando. Nada demais, afinal vivemos numa sociedade de informação, a terceira onda de Toffler, a inserção digital e o escambau. O tal marketing golpista quer colar isso nas costas da mulher valente que entre outros feitos conseguiu quebrar uma lojinha de cacarecos de R$ 1,99 em 1996 (E depois disse candidamente ter sido vítima da escalada do dólar que foi a R$ 3 – detalhe, foi mesmo, mas em 99, mero pormenor, insuficiente para tisnar a imagem de Dilma que nunca mentiu). Se confundiu a data, o fez porque a pessoa que levantou esse ponto era imbecil ou conivente, logo, impedida de argumentar. Dilma jamais encontrou a Secretária da Receita Lina Vieira para tratar de assuntos relacionados com o presidente do Senado – provem que encontrou! Mostrem as fitas! Nunca fez dossiê – a Secretária Erenice elaborava apenas um banco de dados com as despesas de dona Ruth Cardoso. Para que ter hard disk se nada se coloca nele? Não é mesmo? Tanto terá byte de capacidade ociosa. Falam que a rejeição a Serra aumentou. Aumentou. Essa rejeição ’assustadora’, FOI CONSTRUÍDA, FOI PLANTADA sistematicamente, FOI GENEROSAMENTE REGADA para frutificar agora! FHC já foi demolido – ou será que ele foi aquela coisa medonha que tantos fracassomaníacos falam sem ter idéia do que dizem? É a vez do Serra? Mais umas inaugurações de bar à beira de estrada e o trabalho estará completo. Mais uns comícios durante as horas-extras de Nossopresidente e vamos todos de mãos abanando para cima abominar o desespero e os factóides da oposicinha vazia de propostas nos debates de alto nível. Uma frase tranqüilizadora para as almas delicadas. O pior poderia acontecer se contra burguês votássemos 16. Não será o fim do mundo e, sim, o alvorecer de uma neodemocracia trazida a nós pelas urnas. Algum problema? Castro não matou um único dissidente com suas mãos. Provavelmente, nem sabe que um ou outro (milhar) foi ao paredón. Lula não sabe até hoje do mensalão – foi traído, mas não foi nada demais. Era tudo caixa-dois como sempre se fez nessepaiz. Tudo bem feito. Primeiro nega-se o crime. A seguir é admitida sua existência e ela é atribuída a alienígenas, seres malévolos, ectoplasmas nocivos vindos de outro planeta ou delinqüentes com os quais nada temos a ver. As pesquisas confirmam isso. Agora quem dá bola é a Dilma, a Dilma é a grande campeã! – Como bom torcedor do Santos F.C., preciso adaptar o hino.
Nota do Editor: Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas, autor de “Almanaque Anacrônico”, “Versos Anacrônicos”, “Apetite Famélico”, “Mãos Outonais”, “Sessão da Tarde”, “Desespero Provisório”, “Não basta sonhar”, “Um Triângulo de Bermudas”, “O Desmonte de Vênus”, “Plataforma G”, “Bucareste”, “A luta continua” e “A Volta”. Nas livrarias Cultura e Siciliano. E-mail do autor: asolo@alexandru.com.br.
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